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Para sobreviver ao Coronavírus no Brasil

Pânico generalizado expõe toda a deficiência dos sistemas de saúde pública e educacional ao redor do mundo, incluindo o Sistema Único de Saúde – SUS e o sistema educacional Brasileiro. As medidas tomadas pelos países do ocidente, até agora – em sua maioria – não condizem com os avanços científicos na área da biologia e da saúde. A Covid-2019 [1] não é tão complexa, mas também não é tão simples a ponto de ser ignorada, o que torna imprescindível alguns apontamentos.

A doença é transmitida por inalação ou contato com gotículas infectadas e o período de incubação varia de 2 a 14 dias. Os sintomas são geralmente febre, tosse, dor de garganta, falta de ar, fadiga e mal-estar. A doença é leve na maioria das pessoas; em alguns (geralmente idosos com asma, diabetes e hipertensão), pode evoluir para pneumonia, Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e disfunção de múltiplos órgãos. Muitas pessoas são assintomáticas. É importante ressaltar que o Coronavirus permanece por 3 horas suspenso no ar, 4 horas sobre o cobre, até 24 horas sobre o papel e de 2 a 3 dias sobre plástico ou aço inox.

As medidas preventivas de ação urgente, tomadas pelo governo chinês e coreano de acordo com recomendações da Organização Mundial de Saúde foram intensas. A medidas cobriram o isolamento de cidades inteiras, fechamento de fronteiras, monitoramento biológico do vírus por geneticistas e da saúde da população por profissionais da saúde e voluntários civis, higienização urbana e a construção de 1000 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em tempo recorde de 10 dias. Com estas medidas a china, país mais populoso do globo (~1,5Bi de habitantes), tem mostrado taxas de disseminação viral cada vez mais estáveis. Três meses após o primeiro caso, a China atingiu o pico de disseminação e o não aparecimento de novos casos em Wuhan, epicentro da Covid-2019.

Nos países com início da disseminação do SARS-Cov-2 [2], como Brasil, esperava-se que medidas inteligentes fossem adotadas, baseadas nas experiências obtidas na China somadas à cobertura de um sistema de saúde pública universal. Entretanto estamos presenciando o absoluto caos por parte das gestões Federais e Estaduais.

A disseminação do Covid-2019 em escala mundial estava anunciada desde meados de janeiro. Sem casos confirmados a esta altura, países como o Brasil precisariam adotar medidas de emergência no intuito de preparar o SUS e educar a população para a inserção do SARS-Cov-2. Neste meio tempo observamos o chefe da República (Presidente Jair Bolsonaro) publicar vídeos em sua rede social – o novo canal “oficial” de comunicação da chefia da República – que a epidemia era uma fantasia. Menos de 24 horas após o seu pronunciamento criminoso, o mesmo foi submetido a exames por suspeita de contaminação por SARS-Cov-2.

O Brasil perdeu um tempo precioso para montar as estruturas adequadas de combate à disseminação, já considerada pandemia pela OMS. Com o congelamento do aumento de investimentos no Sistema de Saúde Brasileiro e o desmonte de diversos serviços de saúde essenciais, temos observado nos últimos 2 anos a falta de leitos de UTI em todas as capitais do país. Os pacientes diagnosticados com Covid-2019 não necessariamente necessitam de internação, entretanto existem grupos de riscos. Dentre estes estão os idosos asmáticos, diabéticos, hipertensos e adultos imunodeprimidos. Estes grupos representam a parcela dos pacientes que são internados em estado grave ou gravíssimo, com a necessidade de leitos de UTI, já ausentes no SUS pela superlotação provocada pela falta de investimentos. Medidas de controle em aeroportos como monitoramento da temperatura corporal de passageiros, incentivo ao uso de álcool gel, de higienização das mãos e evitar aglomerações desnecessárias foram quase que esquecidas.

Três meses após o início da pandemia, estamos presenciando a inanição dos estados da federação, que estão limitando as medidas de contingência viral ao isolamento da população. Curiosamente eventos culturais estão proibidos de acontecer, com Escolas e Universidades paralisadas por tempo indeterminado ou por períodos arbitrários. Enquanto isso os trabalhadores envolvidos em aglomerações urbanas (bancos, fábricas e lojas) e o transporte coletivo – já precarizado em todas as capitais – permanecem em pleno funcionamento, facilitando a disseminação do vírus na população periférica. A ausência de medidas preventivas, principalmente no setor privado, expõe de forma objetiva como o capital está operando para facilitar a disseminação do vírus e dificultar a vida dos trabalhadores que necessitam ficar em quarentena.

Na tentativa de fugir das inúmeras críticas vazias, a proposição adequada para os Estados Brasileiros, frente a inanição da esfera federal seria:

  1. A construção imediata de leitos de internação e UTI, exclusivos para pacientes suspeitos e diagnosticados com Covid-2019 com auxílio de arquitetos, epidemiologistas infectologistas e virologistas.
  2. A construção imediata de laboratórios com equipamentos que possibilitem o rápido diagnóstico e sequenciamento do genoma do SARS-Cov-2 para fins de monitoramento biológico.
  3. Contratação imediata, em caráter de urgência, de diversos profissionais da saúde, geneticistas e epidemiologistas.
  4. Aquisição de termômetros digitais e deslocamento de funcionários das agências regulatórias da saúde municipais e estaduais para os portos e aeroportos.
  5. Início imediato de campanhas de vacinação contra influenza, para desafogar os postos de saúde e evitar a confusão dos sintomas da gripe com o do Covid-2019.
  6. Intensificação de campanhas de higienização pessoal.
  7. Desinfecção de ambientes urbanos de grande fluxo com equipamentos de proteção individuais adequados que protejam todas as mucosas.
  8. Treinamento contínuo dos profissionais de saúde para diagnóstico clínico / laboratorial e condução adequada dos pacientes suspeitos de Covid-2019.

Ainda é prematuro descrever como o vírus irá se comportar no Brasil, cada país tem adotado suas próprias medidas, sem os devidos critérios estabelecidos pela OMS. Alguns países têm obtido êxito como China, Coreia do Sul, Cuba e Japão (em diferentes graus), já outros tem enfrentado novas complicações como na Itália e Inglaterra com seus Sistemas de Saúde deficientes. A população Brasileira necessita que medidas inteligentes sejam adotadas por profissionais devidamente capacitados com o apoio irrestrito do Estado.

Covid-2019: Doença do Coronavirus [1]

SARS-Cov-2: Variação do Coronavirus [2]

Victor Augusto Araújo Barbosa – Doutor em Ciências pela Fiocruz

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