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Patriarcado e consciência de classe em Mimi, o metalúrgico

Em Mimi, O Metalúrgico (1972), obra genial da diretora italiana Lina Wertmüller, somo apresentados ao personagem Carmelo Mardocheo, ou simplesmente Mimi, interpretado por Giancarlo Giannin i, um trabalhador que começa nas minas de enxofre no interior italiano e já de início nos mostra o melhor do cinema político italiano, envolvendo um cenário de curral eleitoral, relações abusivas e muita gritaria, como em todo bom filme do país da bota.

A diretora consegue abordar de forma muito peculiar o comportamento do protagonista, mostrando os problemas de uma sociedade patriarcal, a exemplo do tema da traição e da ascensão social masculina. Importante também vermos na história de Mimi um exemplo de formação de consciência de classe, onde se inicia com o ainda operário mineiro desorganizado, vítima do atraso social e político, passando por um período na construção civil e ascendendo a metalúrgico, com interferências da máfia e a atuação no Partido Comunista Italiano. Entretanto, como a consciência de classe não é estática, Mimi se estagna politicamente e chega a retroceder, virando supervisor e atentando contra a luta da classe, evitando que os trabalhadores do seu setor façam uma greve.


A consciência de classe se mistura com o machismo do personagem, que não progride na emancipação humana, papel a ser cumprido pela personagem Fiorella, interpretada pela atriz Mariangela Melato, um misto de trotskista-anarquista-maoista, fruto do cenário político da época, em que a crítica ao engessamento dos PCs é notória. Mimi não ascende na organização, estagna na consciência e vira um personagem medíocre, perdido na vingança pela traição de sua mulher, que foi abandonada por ele ao morar em Turim e viver com Fiorella. Um exemplo da movimentação da consciência de classe em Mimi é que no período mais intenso do romance com Fiorella, o casal faz amor em frente aos quadros de Marx e Engels; depois, quando Mimi retorna ao interior, tem vergonha de dormir sob o olhar do quadro de Lenin.

A genialidade da diretora está presente na construção do roteiro, repleto de diálogos incríveis, e a combinação da trama com a câmera, nos levando da tensão ao humor em segundos. Vários exemplos dessa condução da diretor podem ser vistos nas cenas em que o conflito entre masculino e feminino estão presentes, como na descoberta das traições, do homem traído seguido da mulher traída, quando tudo parece virar uma tensão e termina na comédia. O movimento da câmera acompanha todas as mudanças de tom do filme.

Em certo ponto, o espectador passa a assumir o lado da posição das personagens femininas, diante da transfiguração de Mimi, um verdadeiro macunaíma siciliano, visto como um heroi cheio de defeitos. Lina faz a crítica da condição humana diante do capitalismo selvagem. As relações sociais, desde as do trabalho ao afeto, são moedas de troca para a ascensão ou a manutenção do status social. Mimi é exemplo disso e de como é necessária a ruptura com essas normalidades.

Antônio Lima Junior, jornalista, diretor da Associação Cearense de Imprensa, militante do PCB e da Unidade Classista



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