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Pedreiro negro morre após ser baleado por PRFs e grupo convoca manifestação

A população está convocando um ato para às 7h desta segunda-feira (8) no Fórum Municipal de Picos, no Bairro Bomba, bairro onde a PRF efetuou os disparos.

Um menino negro filho de uma empregada doméstica morre ao cair do nono andar de um prédio de luxo em Recife (PE). Um pedreiro negro perde a vida após ser baleado enquanto volta do trabalho por não parar em uma blitz em Picos (PI). As mortes do menino Miguel Otávio, de 5 anos, e de Joilson Pereira, de 38 anos, mesmo a quilômetros de distância e em situações diferentes, mostram como a estrutura do racismo deixa por um fio as vidas da população negra.

Em um momento onde o mundo inteiro grita “Black Lives Matter” por conta do assassinato covarde de Georgy Floyd, nos Estados Unidos, a morte de um homem negro após uma abordagem violenta da Polícia Rodoviária Federal no interior do Piauí, mostra que o racismo é um problema grave e estrutural na nossa sociedade.

O pedreiro Joilson Pereira, de 38 anos, morreu após ser baleado em uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na cidade de Picos, no Sul do Piauí, na noite desta quarta-feira (3).

Segundo a família, Joilson estava de moto e vinha do município vizinho de Bocaina, onde estava trabalhando, quando foi abordado pela PRF e não parou o veículo. Na abordagem, Joilson foi atingido pelos disparos.

A motocicleta ficou totalmente coberta de sangue, mostrando o quanto a abordagem dos policiais federais foi violenta. ”A abordagem, acho que atiraram nele pelo fato dele ser negro, acho que por isso mesmo. Preconceito”, disse o sobrinho Ítalo Marcos.

A viúva de Joilson, Maria Raimunda Lima, 49 anos, relata ter acompanhado os últimos momentos do marido. Segundo ela, o pedreiro teria dito no hospital que foi uma “covardia dos policiais”. “Ele me disse assim: ‘Raimunda, fizeram isso na covardia. Foram dois tiros’. Não justifica eles atirarem a queima roupa só porque ele não parou”, disse.

Após ser baleado, Joilson foi levado para o Hospital Justino Luz e na manhã desta quinta-feira (4) não resistiu aos ferimentos e faleceu.

A população está convocando um ato para às 7h desta segunda-feira (8) no Fórum Municipal de Picos, no Bairro Bomba, bairro onde a PRF efetuou os disparos.

Sem trabalhar por motivos de saúde, a companheira de Joilson conta que está muito abalada e pede que seja feita justiça. “Eu tô muito magoada, era só nós dois. Eles tiraram a vida dele e a minha. Não era pra eles terem atirado nele. Era pra eles terem prendido ele, tomado a moto dele. Se eles levassem a moto, ele com certeza comprava outra moto. Eles têm que pagar pelo que eles fizeram”.

Maria Raimunda e Joilson no dia do casamento, em 2016.

Em nota de dois parágrafos, a PRF informou que “lamenta o desfecho da ocorrência policial“ e que vai apurar os procedimentos adotados pelos agentes na abordagem. Os nomes dos agentes envolvidos não foram divulgados, escancarando a proteção de imagem quando o assassino são os brancos. A ocorrência foi encaminhada para a Polícia Federal, em Teresina.

Tiro acidental?

Francisco Edivan, colega de trabalho de Joilson, foi até o local quando soube do ocorrido. Lá foi informado que o amigo havia sido baleado pela polícia. Ele seguiu os PRFs que se dirigiam para a distrito policial para registrar a ocorrência.

“Lá um deles disse que o disparo tinha sido acidental, que foi por impulso. Não contou que tinham sido dois (tiros), contaram que tinha sido um. Como é que foi por impulso se foram dois tiros“, disse Edivan, que também é pedreiro.

Negligência médica

Ao ser levado para o hospital regional, Joilson esperou atendimento médico durante toda a madrugada em uma maca no corredor da unidade. Inicialmente, a equipe médica acreditava que havia apenas um tiro no braço. Somente após cerca de seis horas da entrada na hospital que um segundo projétil foi localizado no tórax de Joilson.

NOTA PRF
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) lamenta o desfecho da ocorrência policial registrada na noite desta terça-feira (02), na BR-316, em Picos/PI, que resultou no óbito do condutor da motocicleta envolvida na ação.

A Polícia Rodoviária Federal informa que as circunstâncias e procedimentos adotados na ação policial serão apuradas pelo órgão e reafirma seu zelo na proteção da vida de toda sociedade, nela incluída seus agentes. A ocorrência foi encaminhada para a Polícia Federal, em Teresina/PI.

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