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Pele alvo: 90,9% das vítimas da violência letal da polícia no estado do Piauí são negras

Uma perseguição policial terminou com a morte de um comerciante em 28 de setembro deste ano, na Grande Santa Maria da Codipi, zona norte de Teresina. Cândido Constâncio de Sousa Filho, de 41 anos, negro, trabalhava em um pequeno comércio local e teve a vida ceifada pela ação desastrosa de alguns policiais militares em serviço.

Esse ganhou repercussão na cidade e foi citado pelo Observatório da Segurança no Piauí no estudo “Pele alvo: a cor da violência policial”, exemplificando um genocídio em curso que, longe de ser ações isoladas, tem acontecido com mais frequência, da mesma forma que também tem ganhado mais visibilidade, sobretudo, na internet e redes sociais.

Os levantamentos realizados pela Rede de Observatórios da Segurança, com dados obtidos via Lei de Acesso à informação, mostram que 90,9% das vítimas da violência letal da polícia no estado do Piauí são negras. Nessa mesma direção, a capital Teresina ocupa o terceiro lugar das capitais monitoradas, com 94% de letalidade da população negra por atividade policial.

Destaca-se ainda que 73,4% da população declararam-se negros no Piauí. “Tais dados reunidos configuram um genocídio negro em curso. A crescente violência na capital e em outras cidades do estado do Piauí é consequência de múltiplos fatores, que vão desde a presente desigualdade sociocultural à inócua atuação do Estado no enfrentamento dessas questões com a implementação de políticas públicas, em especial para as juventudes, e falta de investimento nos sistemas de segurança pública e qualificação aos policiais militares. Outro fator que não se pode deixar de mencionar é que a vertiginosa violência se apresenta como fruto de uma política de segurança pública extremamente equivocada, que, além de não perceber as manifestações do racismo estrutural, ganha contorno na filtragem policial, direcionando as ações policiais para um público específico de “pele-alvo”. Soma-se a isso a ausência de estratégias no Plano Estadual de Segurança Pública”, afirma o documento.

Fonte: Rede de Observatórios da Segurança

Esses números expressam uma realidade preocupante. Para Lúcia Oliveira, mulher negra e integrante do Centro de Defesa Ferreira de Sousa, esses dados infelizmente não foram nenhuma surpresa. “Não foi porque é o que gente já via todo dia nas periferias. A gente na sede da Secretaria de Segurança, no dia 25 de novembro, pra entender porque que tantos corpos negros estão caindo. Agora, o que queremos saber é, diante desses dados, qual a posição do Poder Público?”, questiona.

O estudo aponta ainda que a ação omissão em relação as ações voltadas para o enfrentamento da violência de Estado contra pessoas negras contribui significativamente na atuação das forças de segurança, impacta diretamente na configuração desse quadro de letalidade. Por outro lado, parece haver pouca atuação dos órgãos de controle externo como a Defensoria Pública, o Ministério Público, dentre outros em relação ao quadro da letalidade que extermina a população negra

Pele Alvo: a cor da violência policial

O estudo Pele alvo: a cor da violência policial foi divulgado hoje, dia 14, com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. A pesquisa aponta que a cada quatro horas uma pessoa negra é morta em ações policiais em seis dos sete estados monitorados pela Rede: Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O governo do Maranhão não acompanha a cor das vítimas da violência – uma outra forma de racismo institucional.

Os dados obtidos são do ano de 2020 e mostram que mesmo em um contexto de crise sanitária mundial o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro. Foram 2.653 mortes provocadas pela polícia com informação racial nos seis estados da Rede e 82,7% delas são pessoas negras. Essa é a segunda vez que a Rede de Observatórios analisa os números das secretarias de segurança dos estados que monitora, a primeira edição da pesquisa aconteceu no ano passado.

Mais uma vez, o Rio de Janeiro é o estado que mais mata pessoas negras em ações policiais com 939 registros entre os 1092 mortos que tiveram a cor/raça informada. Porém é a Bahia que novamente apresenta a maior porcentagem de mortes de pessoas negras por agentes do estado com a polícia mais letal do Nordeste. Em Pernambuco, houve um aumento de 53% de mortes provocadas por ação de agentes do estado, com um salto de 93% para 97% de pessoas negras entre as vítimas de um ano para o outro. Pela primeira vez, a Rede de Observatórios apresenta também os números das capitais. Surpreendentemente todos os mortos pela polícia em Recife, Fortaleza e Salvador eram pessoas negras. Teresina e Rio de Janeiro chegaram perto dessa marca, registrando respectivamente 94% e 90% de negros mortos pelas polícias, respectivamente.

Por: Ocorre Diário + Observatório da Segurança do Piauí

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