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Informações confirmam que por volta das 21h11 minutos, o movimento paredista abriu os portões por pressão da polícia e até o momento 11 caminhões foram liberados. Os movimentos sociais puxam atos pela capital, Teresina.
“Essa greve é do país, a população não aguenta mais”, essas palavras do motorista particular Marcos Vinícius dão o tom da barricada humana que se formou entre os caminhoneiros e a massiva presença das Polícias (Tática, BTAP, DOE… Polícia Civil e com a ameaça de chegar a Força De Segurança Nacional a qualquer momento) no Terminal de Petróleo no Bairro Dirceu (Teresina-PI).
Há alguns passos da barricada que impedia a passagem das polícias, se encontravam os caminhoneiros que não apresentavam qualquer sinal de vontade de acabar com o movimento de paralisação, desmentindo, inclusive, o acordo feito na noite do domingo (27). Os caminhoneiros, desconfiados (e com razão) de conceder entrevista para as três mulheres desconhecidas que se aproximavam dizendo querer uma entrevista, aos poucos foram revelando que a única verdade é que o presidente Michel Temer não apresentou nenhuma proposta concreta.
Bruno Fontenele, Goiás, 38 anos afirma que até agora o que o presidente Michel Temer apresentou de proposta apenas vai durar 60 dias “Isso não nos garante nada, quem garante que ele não vai mudar tudo depois de 60 dias? E mais, além dele revogar ele pode tornar crime toda a luta que fizemos aqui”. Bruno, já com as bochechas bem rosadas, talvez do calor, talvez do cansaço de 42 dias longe de casa, talvez de indignação … afirma que nem o presidente, nem os deputados sabem o que estar longe de casa, no meio do nada, passando necessidade. Ele diz isso para lembrar que os caminhoneiros não estão de brincandeira. Segundo, os manifestantes há uma certeza generalizada que essa luta é em nome de todo o país.
Na roda de caminhoneiros formada entre os carros de abastecimento, protegida pelas copas dos angicos, um falante (gente boa, acho) caminhoneiro, só não quis se identificar, mas revelou que a perspectiva é o movimento aumentar com a greve dos petroleiros, já prevista para iniciar uma paralisação de 72 horas a partir de quarta-feira (30). Ele explica que se uma frota sai de Santa Catarina e vai até o Nordeste e a mesma custar 10 mil reais, o caminhoneiro vai pagar 70% só de óleo diesel. Segundo o caminhoeiro, cuja a única identidade, por hora, são os olhos mel agateado, isso recai sobre o cidadão comum, pois torna todos os produtos caríssimos, inclusive os alimentos.
Perguntei a ele se ele viu que os petroleiros estão denunciando a venda do petróleo do prés-sal a um centavo o litro. Ele respondeu que viu muito bem onde isso começou “começou com PSDB e o José Serra oferecendo os postos de retirada de petróleo da petrobrás às empresas estrageiras… como pode o nosso petróleo ir bruto para os Estados Unidos (EUA) e voltar refinado mais caro para o Brasil se nós temos condições de refinar nosso próprio petróleo?”, questiona o manifestante sobre o processo de privatização e desnacionalização das riquezas brasileiras.
O sindicato dos petroleiros entregou o comunicado de greve à Petrobras, ainda no último sábado (26). A lista de reivindicações inclui cinco pontos, entre eles a demissão do presidente da companhia, Pedro Parente. Os sindicalistas pedem também a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha; a manutenção de empregos e retomada da produção interna de combustíveis; o fim da importação de derivados de petróleo; e a desmobilização do programa de venda de ativos promovido pela atual gestão da estatal.
“Os caminhoneiros não querem sair, quem quer sair são os empresários”
Um pouco mais distante de onde estávamos na roda de conversa improvisada com os caminhoneiros, a já conhecida “passificadora” das manifestações sociais, Coronela Júlia, afirmava à imprensa que o movimento tinha mudado de caráter, que tem pessoas desvirtuando as pautas e que os caminhoneiros queriam sair, mas o bloqueio dos manifestantes não deixava. Neste sentido, perguntamos se o que dizia a coronela era verdade a resposta foi clara e direta: quem quer sair são os empresários que neste momento (era por volta das duas da tarde) estão lá dentro em reunião.
Neste momento se aproximava um outro caminhoneiro, baixinho, magro, mas cuja a avaliação do momento era grande “Eu não saio daqui. Eu pergunto, o Governador do Estado do Piauí vai me escoltar até a minha cidade?”, revelando a preocupação conjunta dos colegas em sair na estrada e serem abordados no meio do nada longe de casa.
E tem mais, o mesmo caminhoneiro afirmou que durante a noite pessoas mal intencionadas cortaram as mangueiras dos caminhões para culpar os manifestantes. Bruno, afirma que isso é muito grave e apontando para um caminhão que pingava disse “olha, isso é altamente inflamável até essa camisa que estou vestido (uma dessas camisas de abadá de carnaval) pode provocar um acidente”, disse acrescentando que as polícias armadas ali apresentavam um grande perigo. Bruno disse ainda, que ele e os colegas chamaram o Corpo de Bombeiros, dado que qualquer movimento em falso da polícia pudesse causar um acidente.
Populares criam pauta local e pedem diálogo com o Governador W. Dias (PT)
Talvez a Coronela Júlia tenha uma razão, as coisas sairam do controle. Sairam do controle dos governantes, dos movimentos sociais organizados, sairam do controle, sobretudo, dos meios de comunicação tradicionais habituados a dar as cartas. Nada que a mídia diga, com a sua cobertura repetitiva dos possíveis estragos por conta da greve, convenceu o povo a ficar em casa. O movimento só aumentava, professores, desempregados, advogados, movimentos sociais, movimentos de ocupação de terra e moradia, estudantes … um movimento plural (em muitos sentidos – não me arrisco a caracterizar).
“Esse movimento é para mudar o preço da gosolina, tirar presidente do poder, baixar o ICMS (Imposto sobre Circulação Mercadoria e Serviços) do Piauí, baixar o PIS-Confins… não é possível aguentar uma gasolina que em um ano subiu 17 vezes”, afirmava o motorista Marcos Vinicius, do começo da nossa matéria. Marcos afirma que o ICMS do Piauí é o maior do Brasil.
Dali a pouco, o movimento já tinha uma comissão e por diversas vezes se ouvia no carro de som que o Governador tinha que sair da sua sala gelada e ir até o povo dialogar a pauta que se colocava. O estudante de direito Wilame Almeida, 22 anos, criticou a presença da polícia no local “O governador em vez de vir negociar com a gente, mandou foi a polícia vir negociar, só que a polícia não tem o poder de negociar a nossa pauta”, disse.
Perguntamos a Coronela Júlia o que dizer diante das pessoas que reclamavam a ausência do Governador no local de negociação “Ele não veio e nem vem, aqui não é lugar para fazer negociação, por isso ele mandou a gente aqui para garantir todos os direitos”, disse. Apesar da compreensão da coronela, o movimento continuava e a vozes estridentes que saiam dos microfones e megafones afirmavam que se acontecesse qualquer gravidade a culpa estaria nas mãos do governo.
E teve também, no início da manhã, a manifestação dos motoristas de aplicativos, mas essa foi impedida de continuar, pois houve uma liminar prometendo multa aos trabalhadores que continuassem a manifestar.
Sobre a questão da redução do ICMS, Maria Aires, lembra que os próprios petroleiros são contra, pois isto pode recair sobre a redução de direitos como saúde, educação e segurança. Só para se ter uma ideia, o ICMS é o maior recurso que gera o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação). Ao que parece, as pessoas estão começando a se juntar, e pensar nas pautas coletivas, mas ainda não há uma palavra de ordem comum.
Algumas pessoas posam para a foto pedindo intervenção militar
Era possível ver algumas pessoas vestidas com camisas, onde se lia “Intervenção Militar Urgente”, mas essas pessoas foram minguando aos poucos do local da manifestação. As faixas e camisas com esses dizeres se tornavam mais robustas na presença das câmeras de televisão, segundo Madalena Nunes, sindicalista que acompanhava a manifestação.
Madalena e Lucineide Barros, professora, narram que ao chegar as câmeras eles imediatamente erguiam as faixas. Pera lá que uma horas a Madá foi perguntar:
– Ei, amiga, vocês são caminhoneiras e caminhoneiros?
– Não sou não. Respondeu a outra, dona da Faixa.
– E porque vocês estão colocando essa bandeira? Vocês foram perguntar se os caminhoneiros levantam essa pauta?
A mulher que segurava a faixa respondeu que a pauta era dela e que ela tinha o direito de levantar. “Então, se a pauta é sua, vá se fotografar com ela na sua casa”, responde a outra. A professora, mais pedagógica, pediu com mais parcimônia que se tomasse cuidado ao levar uma pauta como essas que tem impedido muita gente de se agregar ao movimento. O jovem Willame, estudante, também concorda que essa não seja a pauta, segundo ele, uma ditadura militar seria prejudicial aos acordos de comércios internacionais e finda dizendo “Chega de ditadura”.
O diálogo, ao menos neste caso, foi providencial para entender um pouco das teorias que circulam em todo o país, de que a greve era Locaute e tinha como objetivo uma intervenção militar no país. Não estamos aqui afirmando se o movimento nacional é contra ou a favor da intervenção militar. Talvez estejamos afirmando, que o movimento é amplo e composto por vários setores. Então, antes de afirmar qualquer coisa nos perguntamos: Será que é o momento de juntar geral que tem o compromisso em romper as estruturas coloniais e empresariais do país? Essa é uma indagação, a qual só saberemos se sentirmos o calor, o cheiro e o clamor das ruas.
“Chega de manifestação por redes sociais”, disse aquele caminhoneiro sabido lá do início da nossa matéria.
E nos despedindo “obrigada pessoal, obrigada pela conversa”. E eles responderam “Tchau, vamos ver se vai publicado ao menos uma parte porque aqui todo dia vem a mídia e não publica nada do que a gente fala”. Nós já íamos nos afastando a passos curtos, quando virei e disse “Não se preocupa não, é só eu achar um computador com internet porque a gente é da mídia popular…Sabe comé, né? A gente não tem carro, nem redação e nem estrutura, mas tamo comprometido com a luta do povo”…Putz, isso me fez lembrar que não tínhamos fotografia…
PS: Um salve grande para a Verônica Viana que cedeu as fotos para a nossa redação!
Texto: Sarah Fontenelle
Fotos: Verônica Viana e Sarah Fontenele
Edição: Redação Ocorre Diário
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