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Povos de tradição religiosa ancestral de matriz africana lançam protocolo de consulta em Minas Gerais

O objetivo do Protocolo de Consulta é informar para a AEDAS, Assessoria Técnica Independente que atua no desastre da Vale em Brumadinho e região do Médio Paraopeba, como atender as especificidades dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana, atingidas principalmente pela contaminação do Rio Paraopeba.

Na terça-feira, dia 20 de outubro, Minas Gerais protagoniza um momento inédito e histórico para as comunidades tradicionais, em especial os Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (o PCTRAMA, como costumam chamar); que lançam o primeiro Protocolo de Consulta Prévia de tradição religiosa de matriz africana no Brasil. O evento acontece de maneira virtual, às 18h30, no canal da AEDAS no YouTube (Aedas – Projeto Paraopeba), e para além de divulgar o Protocolo, as comunidades visam evidenciar os danos espirituais, psicológicos e materiais sofridos após o rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro de 2019.

Oobjetivo do Protocolo de Consulta é informar para a AEDAS (Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social), assessoria técnica independente que atua no desastre da Vale em Brumadinho e região do Médio Paraopeba (São Joaquim de Bicas, Juatuba, Igarapé, Mário Campos e Betim), como atender as especificidades dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana, atingidas principalmente pela contaminação do Rio Paraopeba após o desastre.

Brumadinho MG 29 01 2019 A mineradora Vale, responsável pela catástrofe socioambiental ocorrida na tarde de ontem em Brumadinho (MG), foi multada pelo Ibama neste sábado (26/01) em R$ 250 milhões. Os danos ao meio ambiente decorrentes do rompimento de barragem da mina Córrego do Feijão resultaram até o momento em cinco autos de infração no valor de R$ 50 milhões cada, o máximo previsto na Lei de Crimes Ambientais.Os autos foram aplicados com base nos seguintes artigos do Decreto 6514/2008:Artigo 61: causar poluição que possa resultar em danos à saúde humana.Artigo 62, I: tornar área urbana ou rural imprópria para a ocupação humana.Artigo 62, III: causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento de água.Artigo 62, VIII: provocar, pela emissão de efluentes ou carregamento de materiais, o perecimento de espécimes da biodiversidade. Artigo 62, IX: lançar rejeitos de mineração em recursos hídricos. Autos de infração relacionados ao licenciamento das atividades de mineração cabem ao órgão estadual de Meio Ambiente, responsável pela licença de operação do empreendimento. O Ibama enviou equipes da coordenação de Emergências Ambientais para o local imediatamente após o primeiro alerta de rompimento. Agentes monitoram o avanço dos rejeitos, avaliam os danos ambientais e atuam na busca por desaparecidos e no resgate de pessoas e animais que ficaram isolados em razão do desastre. O ministro do Meio Ambiente e o presidente do Ibama participam de vistorias na região neste sábado.foto Vinicius Mendonça/Ibama

Baseados em leis nacionais e internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT/1989); o Decreto Nacional 6040, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (2007); a Lei Estadual Nº 21.147, que institui a política estadual para o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais de Minas Gerais e a própria Constituição Brasileira; pelo menos cinco grupos étnicos de tradição religiosa ancestral de matriz africana acompanham as reuniões do Grupo de Trabalho da Aedas sobre Consulta Prévia e Protocolos de Consulta. 

São os grupos de Angola, Angola-Muxikongo, Ketu, Jeje, Umbanda, e Reinado; localizados nas cidades de Juatuba, Mateus Leme, Betim, Mário Campos e São Joaquim de Bicas. Uma Comissão com doze representações, de seis casas tradicionais diferentes, participou do Grupo de Trabalho junto à Aedas, e formulou o Protocolo de Consulta.

A Consulta Prévia é uma obrigação do Estado e demais organizações de perguntar aos Povos e Comunidades Tradicionais sua posição a respeito de projetos que impactam suas vidas e seus territórios. Já o Protocolo de Consulta nada mais é do que a formalização da forma como as Comunidades querem ser consultadas.

Em Teresina, capital do Piauí, e no interior do estado, temos diversos exemplos de projetos desenvolvimentistas, realizados pela Prefeitura, Governo do Estado e Banco Mundial; que desrespeitam o direito à Consulta Prévia. Um deles é o Programa Lagoas do Norte; que depois de quase duas décadas de manifestações em torno do projeto, a Prefeitura ainda não apresentou o Painel de Inspeção, e as comunidades seguem cobrando. No município de Paulistana, interior do Piauí, foi através da judicialização do desrespeito à Consulta Prévia, que as comunidades quilombolas conseguiram, junto à advogados(as) populares, barrar as obras da Ferrovia Transnordestina.

Essa Consulta deve ser Livre, Informada e de Boa-Fé; pois ela precisa cumprir os seguintes quesitos: a comunidade deve decidir por livre e espontânea vontade que aceitará a consulta sem pressão externa de governos, empresas, ou qualquer outra instituição; ela deve ser realizada antes do projeto iniciar, por isso chamada de Consulta Prévia; a instituição deve apresentar sua proposta em linguagem acessível para as comunidades, por isso Informada; e a instituição não deve esconder informações, precisa ser honesta sobre os impactos e os perigos do projeto dentro das comunidades, por isso, deve ser de Boa-Fé.

Nengua Dandalumuenu (foto abaixo):“O desastre imensurável do rio Paraopeba, não só para nós povo de

.
religião tradicional de Matriz africana, mas para todos os povos que
dependiam direta e indiretamente dele, foi um crime ambiental que nos
prejudicou e ainda prejudica em todos os sentidos; não podemos retirar
nem um recurso do Rio para nossas obrigações, nem da biodiversidade
que o rodeia. Temos que fazer com que respeite a natureza e que nos
respeite. Precisamos de visibilidade, sermos ouvidos e ressarcidos pelos
danos que sofremos e precisamos urgentemente que recuperem nossa
vida, o Rio é nossa vida, sem ele não somos os mesmos e nunca seremos.”

Tateto Arabomim:


“Então isso é o que nós mais pedimos, é o nosso maior apelo, para que haja
de fato uma reparação. Para que possa ver a recuperação, a revitalização
dessas minas, dessas nascentes desses mananciais que abastece as
nossas comunidades, porque elas são de extrema importância para a
nossa vida. Que nós sabemos muito bem que se água adoece, o rio adoece
e morre, morre os animais, morre os vegetais, morre as plantas, toda a
vegetação do entorno sofre, se a vegetação sofre, todos os animais, todos
os seres vivos que ali estão também vão, sofrem, adoecem e morrem e se
os animais sofrem e morrem com isso, com os seres humanos não é
diferente.”

Na ocasião do lançamento, além de representantes da Comissão que formularam o Protocolo, serão convidados representantes da Aedas, do Ministério Público de Minas Gerais, Defensoria Pública (MG), representante da Comissão Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais da ALMG, representantes da UFMG e de organizações da sociedade civil. 

Com informações da Aedas.

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