Texto Natanael Alencar
O mês de outubro é dedicado à campanha de conscientização sobre o câncer de mama, no entanto, prioriza o público feminino cisgênero. Pouco se discute sobre a saúde mamária da população transexual, o que gera um cenário no qual desinformação e negligência impedem o tratamento preventivo ou em estágios iniciais do câncer. Pensar em estratégias de prolongamento da vida dessas pessoas no país onde mais se mata transexuais é não apenas necessário como urgente.
Dada a escassez de estatísticas confiáveis, nos restam estimativas: a população LGBTQ+ representa 10% da população brasileira, cerca de 20 milhões de pessoas, e dessa parcela 5% são de pessoas transexuais. Número considerável de cidadãos e cidadãs que vivem uma realidade vulnerável em diferentes frentes, como o acesso a serviços de saúde. Nesse contexto de exclusão, é alarmante também o despreparo profissional nas redes de atenção e a falta de diálogo com a população trans.
“Um exemplo de descaso que a população trans sofre pelo Ministério da Saúde é que agora no mês do Outubro Rosa você pode ver como todas as propagandas, publicidade e campanhas de prevenção são direcionadas às mulheres cisgênero e algumas poucas para homens cisgênero também, mas nenhuma delas foi direcionada ou faz menção a mulheres e homens trans. Acredito que nem mesmo a própria população trans saiba que corre risco de ter câncer de mama. No caso das mulheres trans pelo incremento dos seios pelo hormônio do qual elas fazem uso e até as que colocam os implantes mamários. Já no caso dos homens trans, além do uso do hormônio, que mesmo em pequena quantidade, já chega a atrofiar uma parte das mamas diminuindo o tamanho delas, mas também pelo uso diário do Binder (faixa que comprime os seios para diminuir o volume deles nas roupas). Neste caso, além da compressão das mamas pode gerar alguma má formação óssea nas costas e coluna, e mesmo aqueles que tenham feito a mastectomia bilateral total (cirurgia da retirada das mamas) ou ginecomastia (cirurgia da retirada de parte das mamas) eles também podem ainda sim ter câncer de mama”, relata Grax Medina, produtor audiovisual que percebe uma invisibilização do problema.
A prevenção e o tratamento de câncer de mama são temas que precisam ser abordados com mulheres e homens trans, visto as especificidades fisiológicas que caracteriza a mudança corporal ligada à harmonização. Mastologistas pontuam que as regiões glandulares, sejam mamas ou axilas, carecem de autoexame regular, sobretudo a partir dos 40 anos, e que no caso das pessoas trans a questão possui camadas adicionais por causa do tratamento hormonal – e é escasso o número de pesquisas sobre esta associação.
De acordo com estudo publicado no periódico The Journal of Sexual Medicine, a probabilidade de carcinoma de mama em mulheres trans que recebem terapia hormonal é equivalente aos cânceres masculinos na mesma região. Portanto, há indícios que o tratamento hormonal nesses casos não aumentou drasticamente o risco de desenvolvimento de tumores malignos. Mais estudos, entretanto, precisam ser realizados.
O autoexame é a principal forma de prevenção e deve ser realizado com atenção buscando sinais de nódulos, irritação na parte da mama, dores, vermelhidão, inchaço, secreção e alteração de formas. O acompanhamento médico na fase inicial reduz drasticamente o potencial nocivo do câncer.
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