
“A partir de agora, o pessoal tem que ter a consciência, nós temos que ter a consciência de que não podemos desmatar mais. Até eu mesmo que já estou velho, tenho que começar a pensar em fazer é replantar… é reflorestar a Caatinga e não mais destruir”, afirma Seu Cláudio Teófilo, liderança quilombola do Quilombo Lagoas.
As palavras do Seu Cláudio não são à toa. Hoje, 28 de abril, Dia Nacional da Caatinga, é impossível celebrar sem denunciar: o único bioma exclusivamente brasileiro enfrenta um processo alarmante de degradação. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre 2001 e 2022, o desmatamento acumulado da Caatinga atingiu cerca de 12 milhões de hectares — uma área maior que o estado de Pernambuco.
Um desmatamento que, na visão de Cláudio, é negligenciado. Ele denuncia a falta de incentivo à preservação e critica o modelo de desenvolvimento que prioriza o agronegócio e a mineração em detrimento dos povos da caatinga. “Hoje, a gente tem as formas de sobreviver sem destruir a Caatinga, sem destruir a natureza. Então, isso eu vejo com muita preocupação, os governos não incentivarem essa prática nas comunidades, com as populações da Caatinga. Os governos podiam abrir mão um pouco das burocracias ou das faltas de vontade de trabalhar, e incentivar o pessoal da Caatinga a replantar suas florestas, a replantar os seus ambientes, com as árvores nativas que a gente já tem na região. E isso não é feito”, critica Cláudio Teófilo.
A Caatinga ocupa cerca de 10% do território nacional e sustenta uma biodiversidade única, profundamente adaptada ao semiárido. No entanto, seu desaparecimento avança de forma silenciosa, muitas vezes negligenciado pelo debate público nacional. Mas os números frios escondem histórias de resistência, como a Seu Cláudio e das mais de 119 comunidades que compõe o território quilombola Lagoas, no semiárido piauiense. “Se a gente ainda fosse abrir mão e desmatar a nossa Caatinga toda, como foi feito há alguns anos, nós não íamos ter como sobreviver”, afirma.

Para os povos tradicionais — quilombolas, indígenas, sertanejos — a Caatinga é mais que um bioma; é território ancestral, espaço de memória, de cultura e de vida. Nas palavras de Seu Cláudio, “só ainda existe um pouco de preservação porque ainda existe essa população sofrida que vive nos seus lugares”. Sem políticas públicas voltadas para a conservação com justiça socioambiental, o que se verá é a repetição de um ciclo: destruição ambiental associada à expulsão dos povos originários da terra.
A defesa da Caatinga, portanto, não é apenas uma pauta ecológica. É uma luta pela permanência de modos de vida que provaram, ao longo de séculos, que é possível conviver com o semiárido sem destruí-lo. É hora de escutar quem preserva, apoiar quem resiste e interromper, de forma urgente, o ciclo de devastação que ameaça transformar a Caatinga em deserto.
“Nem só na Caatinga, mas em qualquer bioma do país. Só se vê uma preservação, um pouco de preservação a mais, a donde existem esses povos que defendem os seus territórios, que defendem as suas áreas, que formam, caçam um jeito de viver ali sem mais destruição. E é assim que eu vejo o que deveria ser feito daqui para frente”, finaliza.
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