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“Quando eles atiraram no meu filho, eles atiraram em mim também e na sociedade”, diz mãe de homem executado em Teresina

A equipe do Ocorre Diário conversou com a família de Alex Sander do Nascimento Simões, morto pela Guarda Municipal de Teresina, com 11 tiros, na noite do dia 22 de março de 2020. Dona Fátima Cândido do Nascimento, mãe de Alex Sander, nos enviou um depoimento comovente e revoltante ao mesmo tempo. A dor de uma mãe que teve o filho assassinado por quem deveria defendê-lo. A seguir, disponibilizamos o relato da mãe, na íntegra, e todos as suas perguntas ainda sem respostas: 

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Fátima Cândido do Nascimento, mãe de Alex Sander

Perder um filho é terrível. Quando eles atiraram no meu filho, eles atiraram em mim também e na sociedade. Temos que denunciar esse desrespeito, a violência extrema da polícia,  despreparo e desprezo com o ser humano.

Estou sem um pedaço de mim e isso nunca vou recuperar. Mataram meu filho e eu ainda tenho que pagar por isso. Na delegacia, eu só vi descaso e o IML é pior que um açougue. Não está sendo fácil.

Faço várias perguntas e não tenho respostas. Quero saber qual dos guardas atirou no meu filho. E por que tantos tiros?! Um homem desarmado não é capaz de desarmar quatro guardas e fugir numa viatura.

O delegado Danúbio, da delegacia de homicídios de Teresina,  mal quis ouvir o meu relato, mal quis ele falar, não sabia responder as minhas perguntas e ninguém havia avisado que meu filho foi assassinado. Eles tinham os documentos, as informações do meu filho.

Meu filho sempre foi trabalhador, tinha um filho de três anos de idade, que vivia com a mãe. Meu filho queria trabalhar, juntar dinheiro, voltar para São Paulo e depois ir ficar perto do filho. A ex-esposa dele havia recém mudado de cidade com o filho dele. Ele tinha pouco dinheiro para estar sempre visitando o filho em Fortaleza, então ele queria levantar dinheiro para estar perto da  criança, começar a trabalhar mais perto de onde o filho estava. 

Ele havia acabado de dar entrada na pensão porque acreditava que além de ser mais que a obrigação dele, ele sempre achou que tinha que fazer tudo certinho pra que a mãe do menino e o meu neto não ficassem desamparados, ele estava sofrendo muito com a distância do filho.

Ele morava, atualmente, antes de viajar, comigo e meu marido. Lá no Pará ele estava morando sozinho em uma kitnet. Lá era mais fácil de vender o material dele. Um lugar onde o catolicismo é forte.

Mas essa ida dele para o Pará fazia um mês mais ou menos, porque logo o Coronavírus começou a se propagar e já afetou o trabalho dele, que era autônomo. Isso também deixou ele preocupado, não conseguir sobreviver sozinho na cidade, eu também falei pra ele que o melhor era voltar para São Paulo e ficar com o pai e a mãe até tudo isso passar.

E as minhas perguntas? Onde estão as imagens desses lugares pra gente saber o que aconteceu de fato? Quem atirou no meu filho ? Por que não prenderam ele então?

Por que mataram um rapaz, trabalhador que estava tentando, tentando!!! Um rapaz de 33 anos que deixou uma criança, um bebê de três anos de idade. Estou sem estrutura, nenhuma mãe tem o direito de ver seu filho como eu vi o meu. Minha solidariedade a todas as mães que choram o que eu estou chorando. É muito triste.

Comments (3)

  • Renilda silva dos outrossays:

    3 de abril de 2020 at 11:14 PM

    Meu Deus que horror até quando vamos ter que vê mães chorando , famílias destruídas por pessoas que deveriam proteja-las .Meus sentimentos a família ,que Deus na sua infinita bondade e misericórdia dê forças pra Vocês passar por essa tristre situação .Deus abençoe vocês.

  • Marcos Venicius Barros da Silvasays:

    5 de abril de 2020 at 10:27 PM

    Diante disso tudo fico me perguntando. E se ele tivesse conseguido tomar a arma o que ele poderia ter feito ? FUGIDO com ela em mãos? Ou tentado matar toda a guarnição? Entendo os desespero dos familiares mais é se ele tivesse matado os 4 pais de família o quê seria estampado nos noticiários?devemos vde os dois lado da história

  • Sem respostas, família de homem executado em Teresina aguarda há 27 dias pelo sepultamentosays:

    17 de abril de 2020 at 9:25 AM

    […] “Até que ponto temos que normalizar a violência? Até que nível de profundidade ? É um mal estar o que eu sinto”  Diz Letycia, irmã da vítima morta durante o trânsito entre Pará e São Paulo. Ao ser procurada, pela reportagem, a mãe, Fátima, afirma que não consegue fazer qualquer declaração mediante a dor que sente e se limita a dizer “Só quero meu filho de volta”. Veja o depoimento da mãe aqui. […]

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