Seu Raimundo, 77 anos, vazanteiro das margens do rio Parnaíba, na comunidade auto-reconhecida Quilombola da Av. Boa Esperança (Bairro São Joaquim em Teresina), tem novamente suas terras invadidas por advogado e empregados de empresário local, na última segunda (18). Ainda em 25 de setembro de 2018, seu Raimundo sofreu os primeiros ataques, quando sua terra foi invadida. De lá para cá, muita luta popular e comunitária aconteceu, onde advogados populares da causa afirmam que há uma liminar de março de 2019 favorecendo Seu Raimundo. O direito à reintegração de posse de seu Raimundo pode ser conferido na reportagem.
Diante dos fatos e já cansado de tanto caminhar por seus direitos Seu Raimundo afirma “Tenho 77 anos e nunca imaginei que a cor da pele da gente pudesse fazer tanta diferença”. Tendo toda a sua plantação destruída, na segunda-feira (18), a mando de um advogado, Seu Raimundo e a família acionou organizações comunitárias para lhe acudir. Representantes do Centro de Defesa Ferreira de Sousa, acompanharam o senhor nesta saga em várias instituições de Segurança e Justiça.
Vice-presidente do Centro de Defesa, Maria Lúcia, relata que logo que foi acionada foi até o terreno e depois se dirigiu ao Batalhão da Polícia Militar da região, mas chegando lá foi encaminhada para outros órgãos. Ela, junto de outros moradores, foram até o 7º Distrito e ainda no dia seguinte procurou a Defensoria Pública. Após toda a saga pelos órgãos, Lúcia ainda foi na Delegacia da Mulher, pois relata agressões verbais por parte do advogado e empregados que estavam no local derrubando a plantação e construindo um muro no terreno. Segundo Lúcia, contra ela foram dito palavras de baixo calão impronunciáveis, além de constantes ataques à sua condição de alfabetização, tais como “você sabe pelo menos ler?”
Paulo Sérgio, filho de seu Raimundo afirma, “Os dois grupos empresariais, estão tentando intimidar a gente de todas as maneiras. Estão usando suas armas de intimidação aos pobres, porque sabem que somos pobres e negros. Eles não estão agindo como diz a lei, mas eu ainda acredito na justiça e na lei”.
Representantes do Centro de Defesa, afirmam que mesmo após liminar na justiça garantindo a reintegração de posse ao Seu Raimundo, o assédio por parte de vários empresários não cessaram, pois as tentativas de compra do local são constantes. Para os representantes, estes fatos são comuns desde que se instalou na região o Programa Lagoas do Norte, que vem desapropriando os moradores pobres e fortalecendo a especulação imobiliária, favorecendo os ricos da cidade.
Sobre a História da Região: dos tempos das quintas
Chico Oliveira, um griô e respeitado militante do Quilombo da Boa Esperança, lembra que toda região norte eram consideradas Quintas, onde quem dominava eram os ricos fazendeiros portugueses. “Bastava ter arame farpado para ser dono de terra”. Chico conta que a situação mudou desde que as grandes enchentes começaram a afetar a zona norte “para não saírem do prejuízo, pois não estava mais conseguindo trabalhar nas vacarias, os fazendeiros começaram a vender as terras”, diz Chico acrescentando que alguns donos de vacarias foram indenizados.
Do ponto de vista ambiental, a professora Dr.ª Maria Sueli Rodrigues, especializada em estudos socioambientais, afirma que antes a APP (Área de Preservação Permanente) do rio estava há 200 metros na lateral do rio, mas após as enchentes que ocorreram toda a beira do rio passou a ser APP. O que quer dizer que toda área é da União.
Solidariedade de Classe
Diante dos acontecimentos, movimentos sociais e ativistas de direitos humanos tem mobilizado nas redes sociais para declarar apoio à ao Seu Raimundo e à comunidade da Boa Esperança. Seguem alguns vídeos de apoio. Faça também seu vídeo de apoio e envie pra gente.
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