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Racismo institucional: diretora proibe criança com tranças e mexas de assistir aula em escola municipal de Teresina

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é
se transformar em opressor“ (Paulo Freire)

Com 10 anos de idade, criança foi impedida de assistir aula por usar tranças e uma única mexa vermelha. A diretora da escola que barrou a criança justificou para a família que não combina com o uniforme escolar. Agora imagina bem aí se a diversidade étnica combina com essa escola que parece ter saído das cavernas.

Confira a seguir o texto-manifesto escrito por familiares, agremiações culturais, pesquisadores e apoiadores do bom senso. Deixa, deixa a madeixa balançar!

 

Já é consolidada entre os educadores brasileiros a ideia construída em um longo período de debates, de que a escola deve ser um espaço onde se possa construir a inclusão, e o respeito pela diversidade em suas varias manifestações, não apenas por esse ser uma forma de exercício de cidadania, mas também de alargamento de democracia, pois assim crescemos pais, alunos, educadores e gestores.

Nesse caso, se mulheres brancas podem tingir o cabelo, fazer luzes, há de convir que mulheres negras também hão de poder usar tranças afro, tingir uma mecha do cabelo com a cor que elas quiserem, pois apesar de serem elementos que podem apontar para afirmação de uma identidade, também faz parte do processo de reconhecimento e afirmação da autoestima.

Parece que esse não é o caso de uma escola pública do município de Teresina na Capital do Piauí, como se a capital não enfrentasse diversos problemas, mais um aparece. Essa também é uma questão levantada nessa última segunda-feira pela família de uma criança negra, de 10 anos, que usa tranças com uma mecha colorida, ação comuns em pré-adolescentes, de várias grupos étnicos, porém, quando se trata de tranças para uma criança negra, tem um sentido a mais, define uma identidade de resistência, e eleva a autoestima, tanto de outras crianças, como de adultos que estão ao seu redor.

É uma pena que a escola municipal Escolão do parque Itararé, no Bairro Dirceu Arcoverde, que foi constrangida pela direção por causa de sua trança afro colorida, além de impedida de assistir aula nessa segunda-feira, a criança se sentiu e continuar a se sentir violada no seu direito de assumir sua identidade, suas raízes, sua preferência de ter um cabelo que lhe identifique com sua cor, com sua raiz.

A questão iniciou na última sexta-feira, 24 de agosto de 2018. No final da aula, a criança foi chamada na diretoria para ser informada sobre a impossibilidade do uso da trança colorida naquela instituição de ensino publica. Alertada que na segunda-feira deveria ir pra aula com um cabelo “decente” (sic…), que combine com o uniforme escolar, do contrário não assistiria aula. Nesta segunda a “ameaça” se confirmou e pior, agora foi apresentado um Regimento Interno para legitimar essa violência, elaborado pela própria diretora, por incrível que pareça com força maior do que lei.

A direção da Escola Municipal (Escolão do Parque Itararé) onde a criança estuda justificou aos responsáveis que existe um novo Regimento Interno na escola proibindo o uso cabelos colorido, por entender que não combinam com o uniforme escolar.

A escola vai na contra -mão do mundo de novo quando poderia aproveitar esse momento para reconhecer que o que embeleza e potencializa a farda é o aluno , sua inventividade e sua identidade e não o contrario. A escola é a representação de seu corpo discente e docente, com sua diversidade e beleza e não pode ser pautada unicamente pela farda.

O mais estranho nessa historia toda, é que por ignorância e/ou má fé de conhecimento dos dispositivos legais que resguardam qualquer sujeito brasileiro contra o racismo ou a discriminação, e por ser a escola um espaço que antes de tudo, deveria estimular a diversidade em seu ambiente, e priorizar a inclusão, a referida escola parece ir na contramão do mundo.

Precisamos defender Escolas sem Racismo, sem Preconceito. Não podemos permitir que diretorias ou conselhos criem regras sem estabelecer um amplo diálogo com a comunidade para que seja respeitada a diversidade do universo escolar.

Por que não lutar para ter uma escola com qualidade de ensino, melhoria de salário para profissionais da educação, com condições decentes de convívio entre alunos, professores e a comunidade? Como podemos esperar uma escola inclusiva e sem Bullying, quando uma professora, que se pretende educadora, diz que uma criança negra não deve usar tranças afro ou mechas coloridas nos cabelos?

Essa postura violenta a autoestima dessa criança e abre enorme precedente para institucionalização do Racismo e preconceito na escola. Não podemos aceitar o racismo em nenhuma condição! Em nenhum espaço! Contra nenhuma pessoa! Não podemos deixar passar despercebidas ações como essas, pois elas crescem com o silencio e com o medo.
Se brancos podem mudar o tom do cabelo, por que os negros não podem?

Chega de fingir que não existe racismo no Brasil, porque todos os dias negros e negras são violados nos seus sentimentos, em sua identidade, enfim em sua existência.

Assinam esse manifesto:
Marcondes Brito – NUPEC, NEP
Carla Mata – Contadora, Mãe, Associação Teresinense de Skate
Wellington Silva “Dhieck”, Desenhista Tatoo
Carmem Ribeiro – Advogada
Mariana Moura – Advogada, Mãe
Thyago Costa – Federação Piauiense de Skateboard
James Piva – Associação Teresinense de Skate

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