Cantar a música, “ Preta , Preta, Pretinha…”, dos Novos Baianos, com as pessoas pretas e não pretas deveria ser uma certeza que existe empatia com o outro e que o racismo foi desconstruído, mas não é assim que funciona a realidade, pois estamos diariamente tentando ser escutados. Temos pessoas brancas que utilizam do seu privilégio de não precisar refletir ou questionar a sua cor para inferiorizar o outro que tem mais melanina. Por isso, não calamos as nossas vozes e buscamos diversas formas e refletir a situação para desconstruir, mas também para denunciar o silenciamento e pessoas que continuam tendo práticas racistas.
A pauta de racismo em qualquer lugar do Brasil é a busca por respeito, empatia e principalmente compreensão da importância das pessoas pretas e pretos de terem suas identidades resgatadas. Temos uma infinidade de conteúdos , pessoas negras na internet compartilhando conhecimento de como empoderar-se , ser antirracista e até tem para como os brancos podem e devem fazer
A internet é um espaço de liberdade de expressão e não de opressão. Para as pessoas negras é um dos principais lugares para pautar questões fundamentais sobre a negritude como genocídio , racismo, injúria ,apagamento da identidade dentre outros assuntos que fazem com que pretos e pretas empodere-se e não se cale mais diante do racismo.
No Piauí, temos muitos casos de racismo que estáticas podem comprovar e que poderíamos citar aqui o que 60% do população negra já sabe. Para rememorar as pessoas as diversas formas que o racismo que acontece no dia a dia, vou falar do município de São João do Piauí, mas poderia falar de qualquer outro município , capital ou Estado porque as histórias são similare de pessoas racistas. Falaremos do território citado para pressionar as autoridades a tomar as providências necessárias e possamos também refletir este comportamento para desconstruir.
Vamos falar da importância da Denúncia ?
No município de São João do Piauí, as redes sócias estão sendo também usadas para proliferar racismo, por uma cidadã , vou chamá –la de cidadã porque a única intenção é que justiça seja feita e as pessoas reflitam sobre seu comportamento retrógrado para desconstruir-se.
Em São João do Piauí a denúncia ao racismo e injúria racial acontece em todas as mídias por pessoas negras, mas também é importante o registro oficializado nos órgãos competentes da denúncia. O representante do Movimento Negro Unificado – MNU no Piauí, Allan Lira, tomou a iniciativa de não só refletir a questão do racismo mais ter a ação de denunciar uma internauta que todos os dias escrever no seu perfil de rede sociais ofensas gratuitas.
A cidadã usou frases na internet como “Os negros tem que voltar pra África porque o convívio com os brancos tá difícil”, “não sou racista tenho amigos negros”, “racismo é quando você xinga um negro com palavrões ou insultos e não por de fato sua cor”. Esses fragmentos de citações são três distintas formas de racismo feito não somente por ela, mas por pessoas brancas e que precisam ser punidas judicialmente e ao mesmo tempo estas pessoas têm o dever de pedir desculpa e construir uma outra narrativa antirracista.
Allan Lira (MNU Piauí), homem negro e também residente do município não ficou calado e registrou um boletim de ocorrência . “Nós sabemos que atitudes racistas como dessa moça não acontecem isoladas. Elas são pertinentes na sociedade brasileira como todo, e o poder público precisa dar uma resposta à comunidade negra, precisa agir no sentido de combater o crime de racismo, mas também no sentido de desenvolver políticas públicas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial, que são quase ou inexistentes por parte dos municípios do interior do estado, o que passa uma falsa visão de que não existe racismo”, afirma.
Allan, reforça que vidas negras importam e a dignidade do ser humano negro precisa ser respeitado. “Não voltaremos para a África por que nosso lugar é aqui, fomos responsáveis por tudo que se produziu e se edificou nesse país, inclusive de graça, não toleraremos racistas, e não daremos nenhum passo para trás”, finaliza.
Quando uma professora olha para Município de São João
Raimunda Ferreira Gomes Coelho é Professora da Rede Estadual de Ensino e Graduada em Letras e Pedagogia, Mestra em Letras- UESPI e em Educação -UFPI, quando ver o Racismo criando novas formas de manter-se sai um desabafo: Senta e Reflete.
Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, a população afrodescendente está entre as comunidades mais pobres e marginalizadas do mundo, como mostra o alto índice de mortalidade e mortes maternas, além de acesso limitado à educação de qualidade, serviços de saúde, moradia e seguridade social, discriminação no acesso à justiça e enfrentamento de abordagens policial e filtragem racial alarmantemente.
Essa realidade mundial está presente na vida da população afrodescendente em todos os lugares do Brasil, porque a sociedade brasileira foi construída a partir de relações sociais racistas, impostas pela colonização euro-cristã capitalista. Significa que as pessoas afrodescendentes, trazidas forçosamente para o Brasil, foram classificadas pelos europeus, sobretudo, portugueses, como inferiores e incapazes de conduzir suas próprias vidas, sendo, por isso, escravizadas e excluídas dos bens que produziram e produzem.
Baseada nesse pensamento racista, a sociedade brasileira tanto classificou os afrodescendentes como inferiores como também determinou os lugares de “brancos e negros”, de forma que aos ditos “brancos” foi atribuída a superioridade e o mérito a todos os privilégios, e aos ditos “negros”, a inferioridade e nenhum mérito. Esse pensamento se fortaleceu, se reproduziu, gerando o quadros de desigualdades sociorraciais.
Apesar das lutas históricas de resistência ao escravismo colonial, séculos depois da abolição e após as conquistas, traduzidas nas leis já consolidadas, o racismo se reproduz e se atualiza, trazendo cotidianamente obstáculos para a população afrodescendente, principalmente o direito de ser e de estar nos espaços sociais determinados pelos ditos “brancos” para si. O resultado são as situações absurdas de racismos que presenciamos, quando uma pessoas afrodescendentes ocupam esses espaços sociais.
O preocupante é que esse racismo existe, mas é negado, sendo mais difícil de ser combatido. Isso se chama falsa democracia racial, que pregava e ainda prega a inexistência do racismo, dificultando a busca de solução para os conflitos raciais existentes e para a promoção da igualdade racial. Segundo uma pesquisa do Instituto Data Popular, divulgada em 2014, pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, 92% dos brasileiros acreditam que há racismo no país, mas somente 1,3% se considera racista. Mostra ainda a pesquisa que 68,4% dos brasileiros adultos disseram ter presenciado um branco se referir a um negro como “macaco”, sendo que apenas 12% reagiram ao fato.
O referido estudo revela, ainda que um em cada seis homens brancos não queria ver uma filha casada com um homem negro, inclusive o atual presidente da República, em 2011, quando ainda era deputado federal. Questionado pela cantora Preta Gil sobre o que faria se um filho dele namorasse uma negra, respondeu “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”. Em 2019, já na presidência, afirmou que o racismo “é uma coisa rara” e “já encheu o saco esse assunto”.
O agravante é que, se quem está no topo das decisões, nega o racismo mesmo praticando-o publicamente, a situação do racismo ganha mais respaldo e pode se agravar, já que, a autoridade que governa não promoverá políticas públicas antirracistas, além de reforçar o pensamento racista naqueles que já o tem.
Em São João do Piauí , a situação não é diferente. Com uma população predominantemente afrodescendente, somando 73,66 % (pretos e pardos), segundo o Censo do IBGE 2010, o Município se originou de fazendas coloniais escravistas e a sociedade se formou a partir de uma forte segregação racial e de muitos preconceitos. Para se ter ideia, em tempos não tão distantes, pessoas ditas “negras” não podiam estar nos espaços de diversão dos “brancos”, tanto é que eram barrados em clubes, chegando a se ter lugares separados de diversão, como o “Bar dos negros”. Em muitas festas, havia até separação das pessoas, de forma que não podiam dançar juntos “negros” e “brancos”.
Qual a importância do município fazer o enfrentamento do combate ao racismo?
O racismo é forte e precisa ser visto como um problema, que prejudicou e continua a prejudicar milhares de pessoas, a todo instante. Caso não seja enfrentado, desconstruído através de um processo permanente de educação, permanecerá, porque as crianças vão crescendo, vendo o racismo ocorrer, podem achar normal e vão reproduzindo por toda a sua vida, principalmente em situações, como se vê nas redes sociais.
Por isso, o Município precisa fazer esse enfrentamento, articulando ações do poder público com todos os seguimentos da sociedade e não esperar apenas uma situação explícita de racismo para falar da questão, até mesmo porque o que aparece nas redes sociais é o que pensa muitas pessoas, apesar de não expressar em fala, mas em atitudes cotidianas. Apenas as pessoas se admirando dos racismos e não buscando soluções para atingir suas causas, não se reduzirá esse racismo.
Porque tem crescido o racismo no município? Porque de tanta impunidade?
Não é que o racismo tem crescido, mas com as redes sociais ficou mais visível, porque as pessoas, em seus comentários e postagem expressam o que aprenderam dentro da sociedade, nos diferentes espaços. O que foi e ainda é velado, aparece desnudado na conjuntura atual, através de manifestações abertas de racismo, que ganham notoriedade nas mídias, sobretudo, nas redes sociais e nos espaços públicos.
O racismo se reproduz, atualiza-se e permanece porque não há políticas públicas eficazes para seu enfrentamento. Apesar de ter uma luta permanente do próprio povo afrodescendente organizado em movimento como a Capoeira de Quilombo e o Movimento Quilombola, que desencadearam a discussão das questões raciais no Município; da Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, que dá visibilidade a essas discussões; do Campus do IFPI, que tem acolhido essas discussões a partir de sua chegada no Município, e de ações pontuais outros espaços escolares, ainda não tem sido suficiente para diminuir numa situação desejada esse racismo.
Além da ausência de políticas públicas, existe o silenciamento de setores da sociedade, a naturalização do racismo, por isso, a impunidade. Muitas pessoas cometem o racismo a todo momento, mas acham que o que praticou não é racismo. Não discutir o racismo já é racismo, porque não se está dando a devida importância à questão. A pesquisadora Nilma Gomes diz que “quanto mais a sociedade, a escola e o poder público negam a lamentável existência do racismo entre nós, mais o racismo existente no Brasil vai se propagando e invadindo as mentalidades, as subjetividades e as condições sociais dos negros”.
Quais ações devem ser tomadas?
Para o enfrentamento ao racismo, primeiro deve-se fazer a releitura das relações sociais e compreensão dos discursos racistas bem presentes, como por exemplo, nas piadas, nos apelidos pejorativos, nas ditas “brincadeiras”, dizeres racistas, para redirecionar as ações educativas para a superação de todas as formas de discriminação.
Segundo, o poder público, através de todos os seus órgãos, desenvolver ações permanentes de valorização da história, das lutas e valores das pessoas afrodescendentes, reconhecendo-as como participantes da cultura e das riquezas do Município. Implantar, de fato, nas escolas, um currículo escolar, incluindo a história e cultura africana e afro-basileira, como determina a Legislação Educacional, sobretudo a Lei 10.639/2003 modificada para a Lei 11.645/2008, começando por dar visibilidade à história da população afrodescendente local, que é pouco estudada nas escolas. Quanto às escolas particulares, seria importante uma articulação com as públicas para a discussão e implantação desse currículo antirracista.
O terceiro, em relação à sociedade como um todo, não se silenciar diante das situações de racismo, denunciar qualquer que seja manifestação desse tipo, acompanhar as ações existentes tanto no poder público como na iniciativa privada, para avaliar se estão ocorrendo, segundo às exigências legais e às necessidades da população, sobretudo, a afrodescendente. E um dos pontos básicos é promover a formação continuada de agentes responsáveis por desenvolver as políticas públicas, como equipes de gestores, legisladores, líderes comunitários, líderes religiosos e todas as pessoas que estão à frente de serviços à população.
De forma bem especial, as instituições educacionais precisam promover a formação de professores para a desconstrução dos racismos e criação de uma prática educativa antirracista. Uma sugestão é a integração dos diferentes segmentos na promoção coletiva permanentes de eventos, que não seja só no Dia da Consciência Negra ou em um projeto pontual, pois quanto mais se fala de um assunto, mais se aprende e se muda de postura.
Os desafios no enfrentamento ao racismo são grandes, mas havendo esforços coletivos é possível se ter esperança de relações sociais futuras com menos racismos e mais respeito às diferenças. O combate ao racismo é tarefa de todos nós, inclusive dos meios de comunicação, como este veículo está fazendo.
A internet também é o lugar do empoderamento e também de fortalecimento da negritude , pois o registro do B.O é um passo para que outras pessoas negras não só do município tenham coragem de questionar e cobrar das autoridades a reparação de respeito.
FATO.
Todos os anos é elaborado o Atlas da violência realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Público e a população negra ocupa as maiores porcentagens em mortes, ausência de políticas públicas . É perceptível cotidianamente sem nenhuma pesquisa de instituições que o alvo das mortes por arma de fogo, arma branca, balas perdidas é as pessoas negras mais retintas.
No Piauí, o último Atlas da Violência , revela que dos 626 homicídios registrados no estado, 549 foram de negros, representando 87% das vítimas e 75% das mulheres vítimas de homicídio no Piauí são negras.
#VIDASNEGRASIMPORTAM e o município de São João do Piauí tem certeza disso.
O mundo tá vivendo um stopim de não aguentar mais tantas intolerâncias e falta de empatia . É por isso, que #Vidasnegrasimportam tem questionado o porque das mortes negras, porque do silênciamento histórico da negritude, porque as pessoas negras são associadas às violências e uma infinidade de questões que passam a pele negra.
Vidas Negras Importam (Black Lives Matter) é um movimento de ativistas que surgiu nos Estados Unidos. Tem o objetivo de denunciar a maneira agressiva que policiais americanos tratam os corpos negros até matá-los e reivindicar por justiça , para que policiais sejam acusados e respondam aos crimes que cometem motivados pelo tom da pele.
O município de São João do Piauí ou em qualquer outro território tá pedindo igual, George Floyd, para respirar e não morrer. É importante que todas vidas negras em qualquer lugar deste país sejam valorizadas e é por isso, que frases de racismo precisam devem ser coibido porque mata e tira o fôlego das pessoas negras .
Texto: Malu Mendes, jornalista negra
Revisão: Sarah F. Santos, Luan Matheus e Malu Mendes
Artes: Luan Matheus
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