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Rappers do MA e PI lançam clipe ‘Intelecto de Quebrada’

Muito tem se falado em ‘Intelectuais Negras e Negros’, invisibilizades pela história oficial e que urgem de diversos contextos. A escrita e a narrativa poética do rap dos Racionais como leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp; Conceição Evaristo, escritora da literatura negra que a pedido de leitores se candidata à Academia Brasileira de Letras; Antônio Bispo dos Santos, mestre quilombola piauiense, que ministra aulas por diversos centros de ensino superior pelo Brasil, dialogando principalmente sobre o conhecimento orgânico de comunidades originárias e afro-pindorâmicas. São só três exemplos de uma infinidade de saberes que a história e a mídia oficial não querem que você entenda direito.

No Piauí e no Maranhão, também há uma gama de artistas negres que passam uma mensagem política, fissurando o sistema em vários espaços e formatos. Um desses espaços são as suas diversas ‘quebradas’, e um desses formatos é o audiovisual.

Por meio deles, os rappers e ativistas, Carmen Kemoly, Preto Kedé, Preto Fúria e Dornele França lançam o clipe da música ‘Intelecto de Quebrada’, uma produção de aliança entre as produtoras independentes Brooklyn Filmes e Rua 2 Filmes, ambas de Teresina [PI].

O clipe é uma enxurrada de informação. Além de levantar debates sobre o protagonismo negro, também fala de uma realidade vivida pela maioria de jovens nas periferias, que convivem com o crime e a repressão de perto. Mas não se limita a isso. Trás referências importantes da intelectualidade negra, como Esperança Garcia, mulher negra escravizada, que foi reconhecida como a primeira advogada piauiense [pra não dizer do Brasil, né] em 2017, pela OAB/PI. Você também verá artes de Arthur Doomer, artista visual piauiense, reverenciada no livro-reportagem da própria Carmen, que salta aos olhos dos mais atentos.

Assista ao clipe e saiba mais sobre os artistas.

CARMEN KEMOLY – ‘Tamo de cima no Nordeste, aí sim eu vi vantagem, vem aqui! Viver nossa realidade…

Carmen Kemoly é natural de Timon, no Maranhão. Comunicadora social, vem trabalhando no hip hop como ferramenta de comunicação desde 2012, quando foi correspondente piauiense do Portal Baiano Correio Nagô. Desde então, ultrapassou a limitação jornalista-fonte e vem entrando de cabeça como membra do hip hop piauiense e maranhense, atuando nos elementos do grafite e MC. Desde 2015, Carmen trás a escrita poética como prioridade em sua militância política e negra escrevendo principalmente sobre o que é ser mulher e negra em diáspora. Do seu lugar de fala, também escreve sobre a ocupação dos espaços nos diversos âmbitos da sociedade e tenta traduzir pra linguagem das ruas o que a academia tem tanta dificuldade em dialogar. Em 2018, morando no Rio de Janeiro, participou de diversos slam’s  [batalha de poesia falada], sendo campeã do ‘Slam Liberdade’ em Petrópolis, que garantiu sua vaga na grande final da Estadual do Rio. Também foi uma das doze finalistas do ‘Slam Pequena África’, que reuniu num processo de poesia preta noventa poetas do Rio de Janeiro na FLUP [Festa Literária das Periferias] e se apresentou ainda no WOW, Festival Mulheres do Mundo. Em 2019, na reta final da gravação de seu primeiro EP, intitulado ‘KARMA’, Carmen Kemoly abre o ano com o lançamento do clipe ‘Camburão’ que, segundo ela, é um grito, ‘de pertencimento e reconhecimento da minha negritude e da de meus pares’.

Assista: CAMBURÃO

DORNELE FRANÇA: ‘Me quero sã sem doidera, pra quebrar tuas regras’

Mais conhecido como Nego Doka, Dornele França é militante e ativista do movimento Hip Hop de Teresina. Faz parte do Grupo de rap Reação do Gueto e do Coletivo Princípio Ativo. O grupo teve início em 2009 e desse tempo pra cá, vem em constantes atividades, vivências e trocas de experiências sobre o movimento negro e o Hip Hop em si. Organiza anualmente o Evento ‘Hip Hop Acontece’, com diversas formações políticas, o Festival de Pipas e o Festival Afro Cultural da Beleza Negra da Santa Maria da Codipi, zona norte de Teresina, onde mora. No fim de 2018, lançou o videoclipe ‘Torrente’, também produzido pela Rua 2 Filmes, e se apresenta em diversos eventos pelo Piauí com seu parceiro Lucas Carvalho.

Assista a ‘Estilo Gueto’.

PRETO FÚRIA – ‘Me responde o que é isso, se envolvendo, perdendo no vício’…

Carlos Augusto, Augusto Silva ou Preto Fúria é envolvido com a cultura hip hop desde os seis anos de idade. Natural do Maranhão, foi já morando no Piauí que integrou o Grupo ‘A Fúria’, onde lançou EP e álbum, daí seu vulgo que carrega até hoje. Ativista cultural, ele é um dos mestres das batalhas de Freestyle em Teresina, tendo vencido três delas: Rima na Rua, Batalha do MC e Batalha do Templo. Em 2016, lançou a faixa ‘Nada de Revólver’, com seu parceiro ‘Aliado’, tocada em vários bailes de rap pela city e hoje faz carreira solo.

Ouça: Nada de Revólver

PRETO KEDÉ – ‘Protagonista do meu próprio trabalho, não quero ser escravo de ninguém’…

Polêmico e atuante, Cledeilson Araújo é o Preto Kedé, um dos nomes piauienses mais conhecidos no cenário do rap nacional. Iniciou sua carreira fazendo parte do Grupo de Rap A IRMANDADE. Formado em 2003, o grupo possuía letras politizadas e conscientes, bem como românticas e de diversão, mas que denunciavam em suas letras o descaso urbano e a violência que acontece no dia-dia. Em 2014, Kedé lançou seu projeto solo, RapReggae, e logo depois o EP ‘Sinta a Minha África’. Em 2016, sua trajetória virou filme com o curta ‘Deixa a Chuva Cair’, dirigido por Juscelino Ribeiro, que chegou a participar de exibições de curtas no Festival de Cannes. O título do curta, que é na verdade um single seu, também ganhou destaque no Canal RapBox, único piauiense que participou até então do quadro no youtube ‘Rap Box Clipes’. Atualmente, lança suas novidades no Canal da Brooklyn Filmes, sua produtora independente, além de fazer eventos em sua comunidade, como o RapBeneficente.

Assista a ‘Missão’:

RUA 2 FILMES: Encabeçada por Cleiton Santos, videomaker e beatmaker, com certeza um dos grandes nomes do audiovisual piauiense. Com apenas 22 anos, já produziu dezenas de clipes pro rap do Piauí e outros estilos musicais. No grafite e no rap, ele também é o MUDO, e além de produzir outros grupos ele também crava seu nome no rap.

Assista ao clipe: ‘Devaneios’

 

 

 

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