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“Resiste, Mulher!”, uma websérie sobre vozes que não vão sucumbir

A jornalista Allyne Paz conversa sobre a sua trajetória e a realização de seu primeiro documentário

Este conteúdo faz parte da série de reportagens sobre Direitos Humanos realizada pelos estudantes do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) matriculados na disciplina Direitos Humanos, Comunicação e Políticas Públicas, unidade ministrada pelo professor Dr. Antonino Condoreli. As reportagens têm como objetivo refletir as questões de direitos humanos criando ambiente crítico no âmbito da mídia, além de contribuir para a disseminação dos conteúdos acadêmicos na sociedade.

Por Laura Santos

“Não me descobri negra, fui acusada de sê-la”. Ao ler o livro Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro, esta fala da pesquisadora Joice Berth saltou aos olhos de Allyne Paz. Com essa citação, a jornalista de 22 anos, sintetiza sua compreensão sobre a violência sofrida diariamente pelos corpos pretos. É através da resistência que ela demonstra a força que é exigida das mulheres que, desde cedo, percebem que esta dor é direcionada não a um problema, ou a uma condição, mas sim a quem elas são. E somente porque vale a pena lutar por quem se é, ela exclama: “Resiste, Mulher!”.

Nenhuma luta é isolada ou se faz sozinha, no encontro existe a possibilidade do amparo. Ao produzir a websérie “Resiste, Mulher!”, a jovem comunicadora reuniu quatro vozes para ecoarem ao lado da sua. Histórias de vida não se perdem quando divididas, são os espelhos que miram a face de outras tantas. Mariana Rasec, Elderlanne Tibiano, Alice Andrade e Pretta Soul são as protagonistas, cada episódio é a chance de um mergulho no oceano que pulsa em suas vivências.

Embora o projeto tenha nascido como fruto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em sua graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o processo de criação começou bem antes. “Me encontrei”, é assim que Allyne define sua jornada universitária, não apenas como uma formação profissional. Sua descoberta e afirmação enquanto mulher negra, seu cabelo cacheado, que em transição, revelava também uma mudança interior, são parte de uma identidade reafirmada ao longo dos pouco mais de quatro anos de curso.

Ao conhecer o feminismo negro, se sentiu acolhida. Ao olhar para trás, percebeu: “minha mãe me ensinou muito antes, sem nem saber. Nós, mulheres negras, praticamos e não sabemos”. A ausência de termos não anula a necessidade da sobrevivência. Por não conhecer, não usavam, mas quem limita o poder que existe no fôlego das mães e avós que não abaixavam as suas cabeças?

Ser jornalista para Allyne é muito mais do que a vontade de ouvir e contar histórias. Se quando criança, sem entender, praticava também uma espécie de lead infantil, sempre inquieta em busca de respostas completas para tudo. Ao crescer, o desejo de fazer a diferença a acompanhou. “É possível ir contra a mídia hegemônica, a comunicação tem sim um lado escolhível, o que você não pode fazer é ocultar qual é o seu”, explica ao dizer a importância de saber pelo quê se deve lutar.

Apesar da sua experiência com audiovisual não ter sido iniciada através da produção da websérie, pois antes, na TV Universitária (RN), havia experimentado trabalhar mais perto da área, conta sobre os desafios de liderar seu próprio projeto. Com o apoio de Rebeca Souza, nas imagens, e Isabelle Ferret na edição e montagem, escolher o que entraria ou não, pareceu uma responsabilidade gigantesca. Porém, sem perder a essência das mulheres que confiaram em suas mãos, Allyne diz ter feito o possível para honrá-las. E o resultado não poderia ser diferente, “elas disseram, ‘não pensava que ia ficar tão bom’, entenderam a importância do trabalho completo”, compartilha em estado de alegria por ter alcançado outros corações.

Não à toa, a trilha sonora escolhida para abertura foi a música “Libertação”, interpretada por Elza Soares:

“Eu não vou sucumbir

Eu não vou sucumbir

Avisa na hora que tremer o chão

Amiga é agora

Segura a minha mão”

Para Allyne, a importância do seu trabalho é romper com o ciclo que determina o lugar que a mulher negra deve ocupar na sociedade. Sua mãe, Cleide Paz, sua maior inspiração, dedicou a juventude na criação dos filhos, ao vê-los independentes, retomou o sonho de estudar e ter um curso superior completo. Com ela aprendeu “você tem que lutar pelos seus sonhos”. Pela sua mãe, pelas mulheres cujos sonhos são sempre adiados, para todas estas cujo “não” foi mais ouvido do que o “sim”, Allyne resiste. E em pé, segura a mão de todas as suas companheiras.

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Todos os episódios estão disponíveis no Youtube.

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