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Opinião: retomar as atividades econômicas em plena ascensão da Covid-19 é uma banalização da vida

Por Alyne Sousa, professora do IFPI.

Em meio a essa pandemia que já matou quase 100 pessoas em Teresina, 30 mil no Brasil e 400 mil no mundo, estamos vivendo um momento impensável, até mesmo surreal, nos marcos da contemporaneidade.

Tanto “desenvolvimento” científico e tecnológico não foi suficiente para nos impedir de cair de joelhos diante de um vírus letal que paralisou o globo, nos obrigando a reorientar os hábitos mais simples até nossa forma de pensar e agir frente às nossas necessidades.

Alyne Sousa é economista, professora do IFPI e militante sindical.


Até a ressignificação dessa palavra tornou-se um imperativo, afinal, de que vale um bem ou um serviço, diante da vida? E elas estão sendo perdidas irresponsável e desmedidamente, em razão da obediência cega ao “deus-mercado” e sua lógica impositiva do individual sobre o coletivo.

Eis que chegamos ao limite mais profundo da impotência enquanto sociedade, e este “deus” não somente não nos apresenta soluções, mas ao contrário, nos exige sacrifícios ainda maiores, nos cobrando que limitemos nossa existência e a dos nossos entes amados, em prol de um suposto “bem-estar coletivo”, que só garante a fruição plena do “possuir” a 10% da população mundial.

Objetivamente falando: isso faz algum sentido? Para nós, que pertencemos aos 90% da massa que luta diariamente pelo básico, sobreviver agora é fundamental, é inclusive um ato político. Retomar as atividades econômicas não somente em Teresina, mas no Brasil ou alhures, ainda contabilizando as vidas perdidas por um sistema que reduz, banaliza e até aplaude esse espetáculo funesto, significa continuar reproduzindo um sistema econômico mais do que doente desde o nascedouro, apodrecido pelos séculos e atualmente em irreversível e avançadíssimo estágio de decomposição.

Nós, classe trabalhadora, que vivemos do e pelo trabalho, temos direito a seguir existindo! O “deus-mercado” não nos permitirá isso, pois afronta sua lógica e a manutenção das nossas vidas tornou-se um fardo e “custo” que o sistema deseja reduzir, até eliminar, por quaisquer meios.

Governos precisam assumir a tarefa precípua para a qual foram criados: garantir, manter e fortalecer as vidas de seus “governados”, acima de interesses individuais e fortuitos. Assim, no curtíssimo prazo, um programa sério de gasto público para combate à pandemia que combine pesquisa científica para o desenvolvimento de sua cura e prevenção, aliada ao fornecimento de serviços públicos de saúde com condições efetivas de cuidado preventivo e tratamento dos doentes e seus parentes, respeitando o direito a uma renda emergencial de 1 salário mínimo per capita para desempregados, empregados informais, autônomos e pequenos empresários, até que as mortes cessem e o risco de contaminação seja completamente eliminado, é mais que uma tarefa urgente, é uma obrigação humanitária.

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