Mais um 19 de abril sem demarcação, reparação e proteção territorial dos povos indígenas. Mais de meio milênio de resistência e luta, em meio massacres, assassinatos e esquecimento.
É preciso coragem e força para resistir e ocupar os espaços, mas este dia, 19 de abril, não é de celebração. Aliã Wamiri Guajajara nos ensina a honrar nossas ancestrais, com a força dos povos originários, mas sem esquecer as dores e marcas que ainda contam a histórias dos povos indígenas no Brasil.
Com potência e sensibilidade, ela compartilhou com nossa equipe um poema onde conta um pouco da história e memória do seu povo.
Tuykwer Okotokpureh
(Sangue sacudido)
Antes de cortar o mar
O vento cheirou o ego
De estratégias cartográficas
Pontilhadas com dor
A cá ficaram todos amuletos
Paridos pelo colonizador
No chão Pindorama escorre
A ganância que tempo marcou
Sob a vertigem transmuta o
Maracá ritmando a coragem
Expulsando as conspurcações
Das circularidades vividas
Indígena de cabeça da Terra
Cobre-se de espírito
Para não calar as cantigas
Das velhas pajés
Ao arrancarem as ramagens
Das cunhãs seus ciclos geram
Tendas que enraizam
Caminhos de balangandãs
Na sentada do poente
A tipóia reveste a cosmovisão
Ali a sábia anciã acalanta
O perdido filhote de jaçanã
Adiante, as brincadeiras criavam sons
Tudo era bicho, tudo era gente
As pequenas coisas eram pintadas
E as inconveniências o fogo soprava
É essa a pátria gentil
De amanhecer marcado
Faz julgo do que sou
A romper-me do peito do grito
(E o silêncio que me ensina a voar)
Aliã Wamiri Guajajara
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