“Antes dessa pandemia, a situação já era precária nas periferias. Na localidade onde eu moro já tava sendo difícil devido a falta de políticas públicas e assistência à saúde. Isso já tava difícil, como sempre, tá ligado!? Com a chegada da pandemia piorou a situação”, nos conta Preto Kedé, rapper do bairro Promorar, na zona sul de Teresina.
Na última sexta-feira (05/07), nossa equipe divulgou um levantamento sobre o avanço da Covid-19 nas periferias de Teresina, onde o bairro de Preto Kedé (Promorar) apresentou a maior taxa de mortalidade da cidade, registrando também o maior número absoluto de mortes (5).
Hoje (07/06), o bairro segue no topo da lista do número de mortes, mas reduziu a taxa de mortalidade, de 11% para 9,6%. Para Kedé, esse cenário é reflexo do negligenciamento que historicamente vem afetando as comunidades periféricas.
“Se antigamente já era negligenciado, imagine agora com essa pandemia, tipo, tá de virada às costas, à mercê da sorte e dependendo desse auxílio. Mas nem todo mundo recebeu esse auxílio. Até hoje tem gente que depende disso pra comer, pra fazer sua correria, pra comprar as coisas”, afirma o rapper.
“Estado e Prefeitura assumiram posturas equivocadas”, afirma o cientista social Marcondes Brito.
Para Marcondes Brito, cientista social, apesar de haver uma política de auxílio emergencial por parte do governo federal (citada por Kedé no parágrafo anterior e fruto de uma forte pressão dos movimentos sociais e parlamentares de esquerda), ele acredita que essa política deveria ser ampliada pelos estados e municípios, de modo a garantir as condições para que a parcela mais empobrecida da população possa ficar em casa e cumprir a quarentena.
“Hoje, não existe uma medida mais eficaz que o isolamento social e a quarentena que deve ser cumprida, mas não dessa forma que a Prefeitura e Estado estão fazendo. Se eles se preocupassem de fato com os trabalhadores eles estariam implementando uma renda mínima, com um comitê misto envolvendo sociólogos, administradores e lideranças comunitária, para distribuir as condições para que essas pessoas possam comer e viver”, afirma Marcondes.
Na retaguarda, quem vem assumindo esse papel são os movimentos sociais, comunitários e organizações da sociedade civil, como vem fazendo o Rapper Preto Kedé na região do Promorar. “O povo está sem poder ir trabalhar, não pode sair de casa, não pode ir pro mercado vender suas coisas, fazer um bico, tá ligado!? Aqui a gente tá se organizando e conseguimos um apoio, com cestas básicas. Não é muito, mas a gente faz o possível pra fazer nossa parte, porque passar necessidade não é bom”, afirma Preto Kedé.
Prefeitura e Estado trocam política social por política penal
O cientista social Marcondes Brito chama atenção para uma outra questão. Segundo ele, o fato da Prefeitura e Estado estarem colocando suas forças de segurança (Polícia Militar e Guarda Municipal) na retaguarda da implementação do isolamento social traz muito mais repressão e violência do que realmente é necessário para as medidas da quarentena.
“Ao fazer isso, assumem uma postura equivocada e maliciosa, ao transferir uma política social para a arena penal. Quando colocam na linha de frente a PM e a Guarda Municipal, Estado e Município abdicam de reconhecer que isso é uma política social. Eu não acredito na inocência do estado, acho que é malícia para criminalizar uma ação eminentemente social”, finaliza.
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