Moradores da Rua Granito, Bairro Alto, estão apavorados, alguns desenvolvendo sintomas de estresse, insônia, nervosismo, em função da construção de uma Estação Elevatória de esgoto bruto pela concessionária Águas de Teresina, em frente suas residências. Segundo as famílias, não houve nenhum comunicado, nem reunião para consultar as famílias que já vivem situações dramáticas no período de chuva quando a rua vira um rio.
Jorge Magalhães, morador da rua, encaminhou relato sobre o drama que estão vivendo e aponta o Procurador Geral da Câmara de Vereadores de Teresina, Rycardo Couto, advogado da Águas de Teresina, de subestimar a comunidade dizendo que as reclamações eram frutos de “despreparo técnico”.
Segue o relato.
Vozes comunitárias reinvindicam respeito
Como morador da área e ambientalista há mais de 15 anos, apenas fiquei sabendo que a obra iria acontecer na “parte baixa” do Alto Alegre, do lado da pracinha, através de boatos. Foi uma surpresa e um choque para todos nós, porque em nenhum momento a empresa procurou a comunidade para dialogar, mostrar o projeto, perguntar qual era a nossa opinião. Ela simplesmente decidiu e ponto. Como se sua decisão fosse um decreto real. Fomos tratados com total descaso. As coisas não devem ser assim.
Um dia desses um engenheiro da empresa estava lá medindo a área e dissemos pra ele que a rua era muito estreita para receber uma Elevatória, que a obra podia causar danos estruturais nos muros e nas paredes das casas. Ele deu uma resposta que nos deixou perplexos. Falou que não precisava se preocupar, porque se tivesse rachaduras a empresa indenizava. Por causa dessa falta de diálogo com a Águas de Teresina e desse estado permanente de incertezas quanto ao futuro, há relatos de muitas pessoas da comunidade, principalmente os moradores mais antigos, que passaram a ter dificuldade para dormir à noite e crises de ansiedade, preocupação e estresse. A saúde mental dessas pessoas está sendo muito afetada.
Somente depois que alguns moradores foram pedir ao Ministério Público para investigar foi que eles apresentaram os projetos. Mas sem estarem acompanhados de licença ambiental ou de estudo de impacto de vizinhança. Na resposta assinada pelo advogado da Águas de Teresina, Pedro Rycardo Couto (coincidentemente, o Procurador Geral da Câmara de Vereadores de Teresina), disseram que nossa representação era “fruto de despreparo técnico”.
Foi muito duro e meio decepcionante para uma comunidade carente da Zona Norte, já um pouco descrente do seu próprio valor, ouvir essa resposta, ainda mais vindo de uma empresa que usa dinheiro público. Para nós, isso também soou como uma tentativa de coagir, intimidar e silenciar. Mas agora eu pergunto: será mesmo despreparo técnico questionar uma Estação Elevatória em um local com ruas estreitas, sujeitos a enchentes que chegam a mais de 1 metro de altura e totalmente vulnerável do ponto de vista socioeconômico? Gostaria de ter a oportunidade de ficar cara a cara com o Diretor-Presidente da Águas de Teresina para fazer esta pergunta.
A justificativa dada até agora é que aquele é o único local da região com características para receber a obra, por ser baixa. Mas não foram mostradas evidências de que isso seja uma completa verdade. Foi apenas dito. E o papel aceita tudo, como bem sabemos. E vejam quanta injustiça: o local mais penalizado com enchentes em toda a região, por ser mais baixo, é exatamente aquele escolhido para botarem uma Elevatória. Quanta irracionalidade! Por que eles não procuram um local “descampado” ou não desapropriam outra área qualquer que não seja tão rodeada de residências? Sabemos que há outros lugares igualmente baixos na redondeza e que não terão um impacto socioambiental tão grande.
E eles ainda têm a ousadia de jurar que a Elevatória não vai causar mau cheiro. Usam palavras bonitas na tentativa de mascarar uma realidade que já é amplamente conhecida por todos, dizendo que existe vedação por aço fundido ou coisa do tipo. Só quem é bobo ou quem nasceu ontem que acredita numa estória dessas. Todo mundo conhece o desassossego e o incômodo que uma obra dessas é capaz de causar se ficar muito perto de residências.
Por tudo isso, nós, comunidade, conclamamos publicamente a empresa Águas de Teresina para que faça um exercício de reflexão, se dispa de sua arrogância, respeite a vontade popular e desista, de forma voluntária, rápida e total, desta sua decisão equivocada, trágica e infeliz, e escolha um outro local para instalar sua Estação Elevatória de Esgoto Bruto, que não seja ao lado de áreas habitadas da “parte baixa” do Alto Alegre, um local absolutamente frágil sob o ponto de vista ambiental, econômico e social. Também convocamos publicamente o Ministério Público, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a ARSETE para que promovam a mais absoluta e completa investigação sobre esta intervenção, que, “a olho nu”, já se mostra equivocada.
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