Após 27 dias, o corpo de Alex Sander do Nascimento Simões continua no Instituto Médico Legal (IML) de Teresina. Enquanto isso, irmã e mãe tentam dar um sepultamento digno ao homem, que foi executado na Rodoviária da Capital, na noite do dia 22 de março. Família recorre para à Prefeitura e outros órgãos públicos, sem respostas. Alex Sander, 33 anos, foi atingido por 11 disparos das armas da Guarda Municipal de Teresina, durante uma crise psicológica. Contamos todo o caso aqui.
Fátima do Nascimento Simões (mãe) e Letycia do Nascimento Simões (irmã), vieram de São Paulo – cidade da família do rapaz – e estão em Teresina há quase um mês tentando retirar o corpo de seu ente querido (filho, pai e irmão) do IML e até agora não tem respostas do poder público. Elas têm ido à procura dos órgãos públicos na tentativa de obter assistência para cremação do corpo como forma de poder levar os restos mortais de Alex Sander para São Paulo, haja vista que no período de quarentena e o perigo da Covid-19 está proibido o translado do corpo em aviões.
“Até que ponto temos que normalizar a violência? Até que nível de profundidade ? É um mal estar o que eu sinto” Diz Letycia, irmã da vítima morta durante o trânsito entre Pará e São Paulo. Ao ser procurada, pela reportagem, a mãe, Fátima, afirma que não consegue fazer qualquer declaração mediante a dor que sente e se limita a dizer “Só quero meu filho de volta”. Veja o depoimento da mãe aqui.
A família está em Teresina contando com o apoio de Movimentos Sociais, como o Coletivo Antônio Flor (Advogados Populares que prestam socorro à família no momento), bem como de ativistas dos direitos humanos que se solidarizaram com a causa e estão dando apoio às mulheres.
“O mal estar de não entender o que se sente . A perplexidade diante de não poder esquecer a forma como eu vi o corpo do meu irmão, que está a mais de 24 dias no IML, e não poder fazer nada, a forma como minha mãe ficou quando estava diante dele. Não consigo harmonizar minhas sensações. O que eu sinto não serve para se dizer. Abraço com carinho toda luz e que essa luz chegue na alma do meu irmão que morreu de forma tão brutal, pelas mãos dos assassinos da GCM”, afirma Letycia narrando sua dor.
A história se repete nos olhos cansados das mães e irmãs que perdem seus entes queridos em situações de brutalidade policial e violação de direitos humanos. “É difícil pra mim pensar nesses nomes (se refere ao nome dos guardas envolvidos no caso) e saber que essas pessoas estão livres. Eles, que mataram meu irmão, meu irmão que queria viver e ver o filho crescer. Quando esses representantes do estado atiraram nele, atiraram na gente também, em mim, na minha mãe”, desabafa a irmã.
Até o momento a família buscou ajuda junto a Defensoria Pública Estadual, Ministério Público Estadual e A Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (SEMCASPI). A Defensoria Pública Estadual está atuando no caso, mas até o momento os pedidos da família não foram atendidos.
A situação é agravada pela falta de respostas do poder público. “Mesmo com os ofícios enviados ao secretário de assistência Social, ao delegado geral de Polícia Civil e ao Instituto Médico Legal de Teresina… Mesmo com Tudo isso, estamos no desespero de que se mantenha o corpo no IML até que a resposta do Juiz apareça. Porque a única resposta que que tivemos em contato com o IML foi que nós deveriam tirar o corpo de lá e que se não tivessem como arcar com a retirada, nós que levássemos o corpo para a casa, porque isso não era mais problema deles”, afirma Letycia sem acreditar na falta de senso do poder público que além de não assumir a culpa pela execução, sequer auxilia a família na transporte do corpo.
Após muitas idas e vindas na justiça, o Tribunal de Justiça do Piauí emitiu parecer quanto ao pedido feita pela irmã respondendo “ CONCEDO PARCIALMENTE o pedido de tutela de urgência, para que se proceda a liberação do corpo do Sr ALEX SANDER DO NASCIMENTO SIMÕES, bem como, autorizo a cremação dos restos mortais do falecido ALEX SANDER DO NASCIMENTO SIMÕES, servido esta decisão como alvará de autorização para cremação.Defiro o Benefício da Justiça gratuita”, afirma o documento.
Maria Sueli Rodrigues, Coletivo Antônio Flor, afirma que esta decisão não cobre o pedido das solicitantes, uma vez que libera o corpo para cremação, mas não obriga a Prefeitura Municipal de Teresina a arcar com a despesas. A irmã, também solicitou junto ao mesmo órgão que as passagens de volta para São Paulo também fossem pagas pelo poder público, mas as mesmas também foram negadas.
Segundo o grupo de advogados que acompanha solidariamente a família, a mesma entrou com pedido junto ao Poder Judiciário, uma vez que não encontrou respostas por parte dos reclames feitos junto a prefeitura. Os advogados ressaltam que o referido documento de pedido encontra-se parado no Gabinete do Secretário da SEMCASPI. Para os advogados, diante do parecer do Poder Judiciário do Piauí, a Defensoria Pública Estadual deve recorrer para insistir na concessão do pedido integral feito pela irmã da vítima.
Reportagem feita coletivamente pela Equipe OcorreDiário
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