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Ser mãe na comunidade: Ancestralidade e Esperança

Quando falo sobre mãe, me foge a ideia pintada pelo ocidente capitalista, porque as mulheres da minha comunidade me ensinaram o que é de fato ser mãe. Falar sobre mãe é pensar naquela que nos dá a primeira gota de sangue que forma o nosso coração, uma conexão ancestral espiritual, que nos permite sentir na morada do espírito (coração) o que se passa com ela. Na comunidade vivemos numa teia de afetos e cuidado umas com as outras, com os filhos delas que também são nossos filhos, o cuidado com a natureza que nos acolhe, nós desenvolvemos dentro dessa reciprocidade com o todo, a comunidade é uma ciranda de amor.


Falar sobre elas é falar sobre um mundo que não reconhece a oralidade como uma tecnologia, como uma sabedoria que é passada de geração em geração e que traz no seu sentir um significado do cuidado com a comunidade, que ultrapassa o seio doméstico. Através da oralidade nos ensinam a significar todos os valores das nossas antepassadas para que possamos pensar um futuro ancestral. Um futuro que carrega consigo a força das mulheres africanas, a força das mulheres em diáspora. É falar de cuidadoras, de parteiras, de oleiras, de vazanteiras; mulheres que contribuem historicamente com sua força de trabalho, como as donas de casa que não tem o seu trabalho reconhecido.

É falar de mães que não tem o direito a creche para os seus filhos, falar de mães que sofrem vendo seus filhos no mundo do crime. É falar de mulheres que nunca tiveram uma reparação histórica. Essa é a minha homenagem a essas mulheres, todo meu respeito e a minha devoção. Essa é a homenagem do Centro de Defesa Ferreira de Sousa a essas mulheres que tem nos ensinado que os valores que carregamos nos atravessam de forma significativa na busca por uma reparação histórica que é nossa por direito. O que aprendemos com elas carregaremos para o resto de nossas vidas, valores que significaremos onde quer que a gente se encontre.

Produção: Maria Lúcia Oliveira de Sousa e Eloá Norberto
Edição de vídeo: Sabrina Siqueira
Texto: Maria Lúcia e Sabrina Rayara

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