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Show da Resistência abre o mês da consciência negra; Movimentos e artistas se solidarizam com os Atingidos pelo Programa Lagoas do Norte

Arte: Ludmila Nascy

Texto: Sarah Fontenelle Santos 

Arte: Ludmila Nascy 

Para abrir o novembro negro com altivez, artistas e militantes de movimentos sociais realizam o Show da Resistência. No dia 01 de novembro na Praça Pedro II, local já fiel em guardar memórias de luta e arte, a coletividade teresinense vai se manifestar em prol das várias vidas impactadas com o Programa Lagoas do Norte, muitas das quais tiveram suas casas destruídas. O evento começa a partir das 18h e conta com música ao vivo, performances artísticas e conversas, tudo ao melhor estilo arte-negra, porque como já diz o samba “negro é a raiz da liberdade”.

Para uma das organizadoras, artista, bailarina afro, professora Artenildes Silva este é um momento para visibilizar a luta “É preciso trazer para  o centro da cidade essa luta de mulheres, crianças e homens que resistem contra o impacto do Programa Lagoas do Norte. A comunidade continua resistindo contra as desapropriações e remoções de suas casas. Os moradores tem o apoio dos artistas e dos mais diversos movimentos sociais para resistir”, afirma. 

O Programa Lagoas do Norte, encontra-se em sua segunda fase, e em seu marco de reassentamento involuntário, documento da prefeitura,  aponta quase duas mil famílias passíveis de serem removidas de seus locais de moradias, onde cultivam um sentimento de pertencimento e territorialidade. 

Ali onde as famílias, muitas das quais tem relação profunda com as lagoas e os rios, com suas vazantes (plantações), pescaria, lazer, e outros costumes. Cultura, vem de de cultivar. Cultivar terra e espírito, é o que fazem os povos e seus modos de vida, como pensar uma Teresina para o Futuro, sem que se respeite a memória e a história das populações da Zona Norte, berço da capital? 

Para Maria Lúcia Oliveira, militante negra que resiste ao impacto do Programa Lagoas do Norte, o show da resistência “É uma celebração e não é ao mesmo tempo”. Se soou confuso para você é porque confusa é vida de um povo que tem que rir e chorar e carregar na raça o esteriótipo de ser o povo que resiste sorrindo contra as violências, inclusive a violência institucionalizada do Estado. 

“Esse tipo de atividade não era pra gente estar fazendo como a gente tá. Era o próprio Estado que tinha que se responsabilizar, porque a gente tem sido vítima da omissão do Estado. Esta poderia ser uma comemoração, mas para nós este é um momento de indignação, onde vamos mostrar através da arte que a gente existe”, afirma Lúcia sobre os momentos de luta serem também momento de cantar, já que até aqui o povo negro resistiu também dançando. Apesar de que do lado de baixo o que se quer é dança livre e não mais resistência. Mas enquanto não for possível, muitos shows de resistência virão. 

 

O Show da Resistência é um chamado contra o silenciamento do povo negro 

Maria Lúcia acrescenta ainda que o encontro é um chamado para todos e todas se solidarizem e perceberem que a rede que os fios da história tecem é um só, “E vamos abrir o mês da consciência negra com este show como um alerta para as instituições e para os mais diversos movimentos negros, que estão fazendo umas rodas fechadas, sendo que eles também estão dentro da roda que está aberta, porque o que está acontecendo também vai acontecer com eles”, Lúcia, como uma griot (antiga velha contadora de história) afirma por metáforas que as rodas pequenas sempre estão nas rodas grandes e por isso, elas se encontram. 

Segundo a organização do evento, o mais importante para se destacar no Show da Resistência é o protagonismo e empoderamento. “Porque se participar de atividades com um gestor que diz que tem simpatia ‘pelo povo moreno’ é sinal de que a gente tem muito que avançar e que este avanço não seja aquele onde tenhamos que ficar subserviente. Nós temos que nos colocar como sujeitos da transformação e não permitir que eles falem em nosso nome. Não podemos mais aceitar que eles derrubem as nossas casas, destruam a nossa cultura, tragam programas como o Vila Bairro Segurança que age de forma arbitrária e ainda dizerem que é em nosso nome”, conclui. 

 

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