Somos uma plataforma de comunicação popular e colaborativa, que ousa sonhar-fazer uma comunicação de liberte as potências emancipatórias, dialógicas, plurais e decoloniais da informação. Somos da Chapa do Corisco, morada de muitos povos indígenas e quilombolas. Nascemos em 2018, das mentes e corações de jovens comunicadores no Piauí, porém, nossa história são andarilhagens de sonhos de muito antes, ainda quando lutávamos pela democratização da comunicação na Enecos (Executiva Nacional do Estudantes de Comunicação Social).
Apesar de nunca termos nos separado, encontrando-nos sempre em muitas lutas coletivas, nos reencontramos no desejo de fazermos uma luta que nos conectasse ao que-fazer comunicativo (qual é a tarefa d@s comunicador@s na construção de um mundo novo?). Foi quando criamos a Flores.Ser Comunicação Coletiva, em 2016. Por lá, prestamos assessoria aos de arte, cultura e outros movimentos sociais, mas também desenvolvemos projetos de comunicação popular como Mulheres nos Terreiros da Esperança (junto a comunitários ameaçados de remoção pelo Programa Lagoas do Norte, onde nos juntamos à pergunta “Lagoas do Norte Pra quem?”).
Foi a partir desta movimentação que nos juntamos a outros e outras corpas sedentas por restaurar o direito de dizer a nossa palavra. E então, nos sentíamos mais completos na construção deste horizonte-utopia, que se distancia sempre quando damos dois passos. A utopia como esse horizonte que sempre nos põe a caminhar.
É assim que, hoje, estamos entre jornalistas, fotógrafos, comunitários, arquitetos, artistas e colaboradores tantos, cartografando os afetos de quem tá no corre diário dessa vida, porque não nos sujeitamos ao imobilismo que o jornalismo nos impõe com suas factualidades, objetivismos e distanciamentos.
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Texto de Sarah Fontenelle, disponível na íntegra aqui!
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O corre é diário e nossa comunicação é insurgente
É do chão que a gente pisa,
do direito que é negado,
do dizer silenciado
pelos donos do poder.
É das histórias apagadas
das vidas antepassadas
D’onde nasce nosso modo de ser
Eles podem até tentar esconder
mas a memória está na pele da nossa gente
Por que o corre é diário
e nossa comunicação é insurgente!
É da falta de terra e moradia
pelo uso do transporte,
pelo direito de ir e vir,
da zona sul a zona norte.
É dor mininu indo pra escola
buscando aprendizado,
da indígena em oração,
pedido ajuda ao encantado,
Da filha de santo no terreno,
agradecendo a seu orixá sagrado.
É das múltiplas formas de ser
e dos povos remanescentes
Porque o corre é diário
e nossa comunicação é insurgente!
É da quebrada nossa voz,
Do silêncio nosso grito
Honrando nossos ancestrais
Derrubando o seu mito.
É da cultura de rua
de expressão popular
pela história do nosso povo
que eles tanto tentam silenciar.
É da vida que emerge na cidade
onde política pública é ausente.
Por isso o corre é diário
e nossa comunicação é insurgente!
É pela vidas mulheres,
dos negros e LGBTs
Pelas infinitas formas de sentir,
pelo direito de viver.
É na diversidade de histórias,
modos de vida e de afeto
Que gravamos nossa memória,
também nesse chão de concreto.
Comunicamos com o corpo,
com a voz e com a mente
Por que o corre é diário
e nossa comunicação é insurgente!
A comunicação que alter forma
o formato e o cheiro,
que entranha em nosso corpo
do dedo do pé até o último fio de cabelo.
Uma comunicação consequente
com gosto de rebeldia,
que é parte da vida da gente
como o sol é parte do dia.
É por isso que acreditamos
em uma comunicação que não se vende.
Por que o nosso corre é diário
e nossa comunicação é insurgente
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Poesia de Luan Matheus Santana