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Transmissor na mesa e ideia na cabeça: comunicando afetos nas ondas do rádio

As ondas eletromagnéticas emitidas pelas mais de 4.600 rádios comunitárias ao longo  do território brasileiro, desempenham uma papel social no cotidiano, pois promovem o acesso  à informação, ao diálogo e o desenvolvimento da comunicação e inclusão de grupos  minoritários. Esse trabalho já existe em 3.8000 municípios de diferentes regiões do país  segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). 

Esta reportagem, produzida por estudantes do Curso de Jornalismo da Univerisdade Federal do Cariri (UFCA), nos leva ao extremo sul do estado do Ceará, no sopé da Chapada Nacional do Araripe, onde está  localizado o Carrapato Cultural, um ponto de cultura regional, que desenvolve em seu espaço  atividades culturais e educativas, acolhendo as ideias e características da comunidade de Belo Horizonte, na cidade do Crato. Um grupo de maracatu, oficinas de fotografia e  audiovisual, uma biblioteca coletiva são os frutos desse trabalho feito por muitas mãos, e no  coração desse projeto pulsa a Rádio Literária Carrapato. 

As crianças da rádio carrapato:  

Os locutores são moradores da comunidade. As pautas, muitas vezes são debatidas nas ruas, nos encontros na praça, no comércio, na calçada de casa. Os pedidos de músicas e alôs nem sempre chegam por telefone, as vezes vem pelo grito do vizinho, por um bilhete do mercadinho. Todos são voluntários que doam algumas horas de seu tempo na programação da rádio literária carrapato, que preza por uma programação diferente e interativa, valorizando a comunidade, seu povo e sua origem. A rádio literária carrapato é voz do povo do carrapato, das comunidades circunvizinhas, do Crato, com alcance no brasil e no mundo. E VOCÊ PODE ESCUTAR CLICANDO AQUI!

Biblioteca da Carrapato Cultural

Tudo nasce de uma ideia! 

Inicialmente, a Rádio Carrapato era uma associação comunitária do sítio Belo  Horizonte, que iniciou suas atividades de maneira informal no início dos anos 2000.  Magaivel Pedro é a cabeça pensante para o ponta pé inicial, pois em conversa com os seus  amigos do bairro e apoiado pelos seus familiares iniciou a confecção de um aparelho de rádio  amador. Aos poucos a ideia foi tomando forma e logo precisaram de um espaço adequado  para realizarem os programas de rádio e as oficinas que surgiram posteriormente. 

“A gente começa com a ideia. Aliás, tudo surge da ideia de alguém, depois a gente  começa a elaborar, tendo que ter dois ou um à frente, mas, desde o começo, tentamos  priorizar a colaboração coletiva.”

José Osmar (Gugu) e Magaivel Pedro, na biblioteca da Rádio. 

E assim, no ano de 2006, a rádio começou a funcionar, inicialmente apenas no  formato de “rádio a cabo”, distribuíram pelos postes de iluminação do bairros caixinhas de  som interligadas, e por elas emitiam a programação musical selecionada. Com o tempo, e  apoiados por personalidades como Paulo e João do Crato, inauguraram a transmissão FM. 

Pouco a pouco o projeto foi se estruturando e crescendo junto com os participantes  que ainda eram muito jovens, e no ano de 2008 tornou-se um ponto de cultura, oficializado  no ano seguinte. Através da verba recebida por se tornarem um ponto de cultura, conseguiram  a aquisição de instrumentos, a melhoria do espaço, e a compra de materiais para a realização  de oficinas de radiocomunicação, radiodifusão e audiovisual.  

Novas ondas no ar

José Osmar (Gugu), editor e locutor da Rádio Carrapato 

Com o crescimento do projeto e a chegada de novos participantes as atividades da  rádio pararam temporariamente: “A rádio em si já existia, porém no ponto de cultura ela deu  uma parada, eram muitas demandas para pouco pessoal”, afirma Magaivel. 

Dez anos depois, no ano de 2019, após adquirem novos equipamentos e com maior  qualidade, a Rádio Literária Carrapato voltou a se propagar pelo ar. Nesse novo momento, o  foco do projeto foi fazê-la funcionar, realizando programas pilotos com aqueles que  desejavam e queriam se comprometer. Começaram com dois programas e pouco tempo  depois chegaram a ter mais de dez por semana. O lema era: “Vamos tentar, vamos aprimorar,  tudo é experiência”.  

Atualmente, a rádio está passando por mudanças, alguns programas estão sendo  remodelados e outros dão espaço para novas ideias que estão chegando. O formato ao vivo  não está funcionando todos os dias, a nova programação ainda está sendo organizada, porém  o veículo faz transmissão 24 horas através do formato em rádios web, possuindo uma grade  própria, que fica disponível após a emissão, semelhante ao formato de podcast.  

“Estamos em um processo criativo, isso pode levar três ou quatro anos, vai depender  da comunidade, mas do processo criativo vai sair pessoas, jovens com esse intuito de ser um  radialista, um locutor, uma pessoa que informa, que não só fala igual os outros.”, conclui  Magaivel. 

A atual programação da rádio inclui programas como “ A Hora da Copa”, que  acontece nas sextas-feiras, onde as crianças dão os seus palpites para os jogos da copa do  mundo. Aos sábados tem o “Minuto mais saúde” , dedicado a passar informações de  conscientização para os ouvintes, e também o programa “Tem de tudo”, momento de  descontração para tratar de assuntos da atualidade e brincadeiras. De maneira geral, os  locutores buscam temas atuais, como política, festas religiosas e eventos locais para tratar  durante os programas. 

Um percurso de conscientização 

Hoje o Carrapato Cultural possui espaço e nome próprio, com uma estrutura mais  fortalecida os membros seguem trabalhando, mas nos contam que nem sempre foi assim. No  começo a aceitação da rádio não foi tão simples, os moradores mais velhos tinham receio,  alguns tinham medo e outros chegavam a dizer que o projeto não seria bem visto pelos órgão  legislativos.

Tudo que é novo…: 

Porém, o objetivo maior sempre foi dar voz para a comunidade do Belo Horizonte, e  foi isso que motivou os dirigentes do veículo para mantê-lo com vida e qualidade. Ao longo  dos anos, o trabalho coletivo feito pela Carrapato Cultural demonstrou que poderia contribuir  com a comunidade como um todo, e nesse percurso gerou significativas mudanças de  mentalidades nos moradores, que passaram a apoiar e incentivar as participações dos filhos,  por exemplo. 

Em entrevista, Magaiver e José Osmar nos contam que os temas de “vez e voz”, raça  e cor sempre foram privados, e essa é a principal barreira a se quebrar. A missão desse  projeto não é trazer fama e nem grande audiência, e sim proporcionar um espaço seguro e  capaz de informar, ensinar e aprender com todos.  

As transmissões dos programas acontecem através do site “literária.xyz”, no canal do  YouTube “Web TV” e no Facebook “Rádio Literária Carrapato”.Para conhecer mais desse  espaço e dos projetos é só dar o play no vídeo abaixo! 

Um dia na rádio carrapato: 

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