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UFPI aprova calendário “especial” e comunidade universitária reage à decisão

Em reunião realizada pelo CEPEX (Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão da UFPI) no dia 14 de julho, foi aprovado o calendário 2020.3, que consiste na oferta de vagas de componentes curriculares em formato remoto para estudantes da graduação.

A decisão não agraduou a comunidade acadêmica, que vem se manifestando contrária a medida. Estudantes, professores e servidores técnicos administrativos temem que essa medida assuma um caráter excludente e antidemocrático.

Na pesquisa feita pela própria Universidade, cerca de 40% dos estudantes não responderam ao questionário sobre aulas remotas. Outra pesquisa feitos pelos Centros Acadêmicos revelou que mais de 70% dos estudantes apresentaram que a metodologia de aula remota é desigual.

Confira a seguir o posicionamento de estudantes, professores e técnicos da Universidade.

NOTA DO DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES – UFPI

Devido a pandemia do Covid-19 desde o dia 17 de março a Universidade Federal do Piauí está com as suas atividades quase todas paradas, desde então entrou em debate a possibilidade de um período remoto. Desse modo o DCE teve o seu posicionamento junto aos estudantes de ser contrário a essa modalidade desigual de ensino, por sabermos que boa parte dos estudantes não possuem materiais e tecnologias para o acompanhamento dessas aulas remotas.

A UFPI, em sua primeira pesquisa feita via sigaa, apresentou que cerca de 40% dos estudantes não responderam ao questionário sobre aulas remotas e em outra pesquisa feitos pelos Centros Acadêmicos mostraram que mais de 70% dos estudantes apresentaram que a metodologia de aula remota é desigual, seja por falta de acesso à internet ou por não conhecimento sobre o debate apresentado pela administração superior.

Diante disso, o DCE aliado aos centros acadêmicos fizeram campanhas, debates e formulários de pesquisa para os estudantes com a finalidade de obter respostas e noticiar a comunidade acadêmica sobre o que estava em debate na universidade. A representação estudantil chegou a elaborar medidas que tentasse democratizar o acesso dos alunos as aulas remotas e a reitoria aceitou apenas uma das reivindicações, a do auxílio digital que já deve ser considerada uma vitória do movimento estudantil. Contudo, ainda é muito pouco para as diferentes realidades que temos na universidade, muitos dos nossos ficarão de fora e não compactuamos com esse modelo desigual apresentado.


Diante disso o DCE- Esperança Garcia, repudia esse ato, a Administração Superior não escutou os seus alunos muito menos as pesquisas feitas, mesmo a UFPI não tendo uma estrutura para as aulas em modalidade EAD aprovou o período 2020.3, como forma de resolver o “atraso” das aulas, o período especial diz ser optativo, mas a verdade é que os professores e departamentos tem total autonomia para ofertar também as matérias obrigatórias, fazendo com que essa medida seja totalmente excludente para os alunos que não contam com uma estrutura básica para acompanhar as aulas.

NOTA DO COLETIVO RUA – JUVENTUDE ANTICAPITALISTA

Ontem tivemos a infeliz noticia que o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão – CEPEX da UFPI aprovou o calendário acadêmico de 2020.3 de maneira remota para os estudantes da graduação. Importante ressaltar que este formato de aulas foi implementado na pós graduação e no colégio técnico da UFPI ainda em março de forma totalmente vertical como a porta de entrada para o que chegou a nós agora. Através dessa nota, o movimento RUA – juventude anticapitalista se coloca totalmente contra a decisão tomada pela maioria do conselho que votou favorável ao calendário “especial”. Somos contra por entender que a educação que defendemos não é excludente, não se pauta no individualismo, como o capitalismo nos ensina, ela se coloca como gratuita, de qualidade e libertadora.

Desde o início da pandemia do coronavírus o debate sobre ensino remoto tomou o dia a dia do movimento estudantil com diversas instituições privadas de educação, universidades públicas e até escolas do ensino básico adotando essas medidas que acentuam ainda mais  a desigualdade social nos espaços de educação. Esse modelo de ensino a distância não supre as necessidades objetivas dos estudantes, pesquisas apontam que a maior parte das famílias pobres e de periferias só possuem um aparelho celular em casa e muitas não tem acesso a rede de internet. Como podemos falar de ensino remoto se parte significativa dos estudantes não possui materiais adequados para se fazer presente nas aulas? Educação é um direito de todos.

Na UFPI, após o início da quarenta, a administração superior lançou um questionário para levantamento das condições estruturais dos estudantes em relação a redes de internet e disponibilidade para acompanhar o sistema de forma remota, apenas 47% dos estudantes responderam o questionário e muitos deles ressaltaram a falta de estrutura. Ontem em reunião do CEPEX foi apresentado que a UFPI conseguiria garantir assistência estrutural para apenas 14% dos estudantes. Isso acentua ainda mais o sucateamento do ensino para os estudantes que não  conseguirão ter acesso a uma educação de qualidade pela qual lutamos!

Entendemos que a situação é crítica, mas não há como debater os rumos da educação sem que todos tenham acesso, não aceitaremos que alguns sejam priorizados em detrimento de outros. Acreditamos que nesse momento as universidades públicas deveriam estar viradas para a produção acadêmica e científica a fim de buscar a superação da atual crise e cumprindo com sua função social.  Por isso, seguimos na luta para construir outra narrativa cobrando responsabilidade da administração superior da UFPI sobre o futuro de milhares de estudantes.

A ADUFPI E SINTUFPI VEM MANIFESTAR POR MEIO DESTA CARTA ABERTA CONSIDERAÇÕES E PONDERAÇÕES SOBRE O PERÍODO ESPECIAL 2020.3

Todo processo de tomada de decisão deve ser construído com base em ponderações bem fundamentadas e em dados e elementos que primam por encaminhamentos racionais e decisões acertadas. Se não isso, que pelo menos as decisões levem em conta as limitações e circunstâncias impostas pela conjuntura do momento. Pensando nisso, a ADUFPI e SINTUFPI vem manifestar por meio desta carta aberta considerações e ponderações sobre o período especial 2020.3 e sua possível exequibilidade dentro do contexto de pandemia, distanciamento social e condições econômicas e de instrução/formação dos agentes envolvidos no processo.

1. Quem são os agentes? Docentes com formação devida e discentes em condições de refletir criticamente os conteúdos formativos de cada disciplina. Não há processo de ensino e aprendizagem sem esses agentes.

2. Que tipos de metodologias e recursos tornam um processo de ensino e aprendizagem frutífero e exequível? Conteúdos informativos abertos ao amplo debate, metodologias que proporcionam a construção humana mútua da educação; tudo isso somado com a disponibilidade de recursos que facilitam o acesso democrático de informações e conteúdos programáticos pertinentes a cada uma dos componentes ministrados.

3. Qual a finalidade social de uma Universidade Pública? Garantir acesso gratuito e aberto ao ensino de qualidade, realizar pesquisas que tragam avanços para a sociedade e promovam inserção discente no universo acadêmico da pesquisa, e promover frutos para a comunidade fora da academia através de programas de extensão. Assim sendo, a Universidade tem uma missão social de atender a todos. Sobretudo aquelas e aqueles em condições de vulnerabilidade econômicas e sociais. É sob esse aspecto que reside a função social da UFPI e o impacto social que a UFPI  causa dentro do Estado do Piauí. Fora desse objetivo, a universidade perde completamente seu objeto.

Considerando os três pontos acima, podemos levantar a seguinte pergunta: O período especial 2020.3 consegue atender aos três pontos levantados acima?

a. Docentes com formação devida – Esse tópico compreende formação acadêmica específica, habilidades de ensino e domínio dos meios e tecnologias para mediação do educativa.

b. Discentes em condições de refletir criticamente os conteúdos de cada componente curricular – Esse tópico implica diretamente em haver condições democráticas   de acesso a conteúdos disciplinares e liberdade de fala crítica e reflexiva sobre os conteúdos disciplinares. Implica ainda em haver livre acesso para a construção do diálogo entre professor e aluno.

c. Metodologias que proporcionam o debate e construção humana mútua da educação e recursos que facilitam o acesso democrático de informações e conteúdos programáticos – Esses dois elementos são inseparáveis: para cada tipo de recurso é exigido um tipo específico de metodologia e vise versa; para cada tipo de metodologia é exigido um tipo específico de recurso.

d. A Universidade Pública tem a missão social de atender a todos, sobretudo aquelas e aqueles em condições de vulnerabilidade econômicas e sociais – A formação docente, o acesso inclusivo à universidade por parte dos discentes, metodologias e recursos adequados disponíveis… todos esses elementos só fazem sentido se estiverem atrelados ao objetivo maior de toda e qualquer Universidade Pública.

Embora nossa categoria tenha formação acadêmica de qualidade, temos formação adequada para o ensino remoto? Passamos por alguns seminários e processos de formação para metodologias de ensino remoto. Mas foram suficientes a ponto de nos habilitar ao ensino remoto? Esses tais seminários nos capacitaram a dominar metodologias pedagógicas didáticas adequadas para o ensino remoto? Mesmo que as repostas para todas essas perguntas levantadas sejam positivas, isso garantiria a exequibilidade mínima do 2020.3 (pensando nas condições 1, 2 e 3)?

Partindo do pressuposto que não há ensino sem aluno, as proposições que fundamentam o 2020.3 garantem o acesso a todos os discentes devidamente matriculados na UFPI? Há garantia qualificada e aberta de acesso às disciplinas ministradas remotamente?

Por fim, o período especial 2020.3 consegue promover o ensino não excludente, democrático e de qualidade para todos os discentes devidamente matriculados na UFPI? É realmente capaz de atender sobretudo aquelas e aqueles em condições de vulnerabilidade econômicas e sociais? Em caso de resposta negativa, perguntamos: Se a 2020.3 não se afina ao objetivo máximo de toda e qualquer Universidade Pública, qual seria então sua função social?

Postas todas as indagações aqui pedimos de todas e todos nós que fazemos a UFPI: Que nossos atos e ações acadêmicas não comprometam a Universidade Pública em sua própria razão social, que é garantir o ensino inclusivo, gratuito, democrático e de qualidade.

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