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Um pouco de Paulo Freire para nos ajudar a pensar e agir nesses tempos; Por Wellyna Frazão

Em tempos de crise, nós que sabemos que outro mundo é, não só possível, como também é necessário, devemos andar amados. Nossa arma é a práxis, teoria e agir amoroso para transformação do mundo, assim aprendemos com Paulo Freire.

Confira o texto de Wellyna Frazão, militante do Corpo de Assessoria Jurídica Estudantil – Coraje. O Coraje, projeto de extensão, militante e aguerrido da UESPI, vem realizando uma série de estudos que trazem grandes pensadores decoloniais e contra-coloniais para desaprender, aprender e reaprender a estar no mundo. Resultado de um dos encontros que debatia Paulo Freire, o capítulo sobre a teoria de antidialógica presente na obra Pedagogia do Oprimido, surgiu este texto que vos apresentamos.

Segue o texto na íntegra:

TEORIA DA AÇÃO ANTIDIALÓGICA

Para o autor a teoria antidialógica seria baseada nos elementos que garantissem aos dominadores estabelecer uma qualidade de relação que perpetuasse no mundo a distribuição de força e poder que lhes é favorável. Devemos relembrar encontros anteriores e reafirmar que o autor pontua que os homens são seres da práxis. São seres do que fazer, diferentes, por isto mesmo, dos animais, seres do puro fazer. Os animais não “admiram” o mundo. Imergem nele. Os homens, pelo contrário, como seres do que fazer, “emergem” dele e, objetivando-o, podem conhecê-lo e transformá-lo com seu trabalho. Que estes “suportes” sejam incomunicáveis entre si, enquanto que franqueáveis aos homens. 

Nessa parte inicial, antes de começar o desenvolvimento sobre a ação antidialógica em si ele sintetiza como se deve agir uma liderança revolucionária e ao mesmo tempo trazendo o seu antagonismo que é a relação de dominação. O autor afirma que não é possível à liderança tomar os oprimidos como meros fazedores ou executores de suas determinações; como meros ativistas a quem negue a reflexão sobre o seu próprio fazer. Os oprimidos, tendo a ilusão de que atuam, na atuação da liderança, continuam manipulados exatamente por quem, por sua própria natureza, não pode fazê-lo. Tende, desta forma, a impor sua palavra a eles, tornando-a, assim, uma palavra falsa, de caráter dominador. uma contradição entre seu modo de atuar e os objetivos que pretende, ao não entender que, sem o diálogo com os oprimidos, não é possível práxis autêntica, nem para estes nem para ela. A práxis revolucionária somente pode opor-se à práxis das elites dominadoras. Na práxis revolucionária há uma unidade, em que a liderança não pode ter nas massas oprimidas o objeto de sua posse. A gente lembra da dualidade do “dominador” e o “dominado” ser o “ator/autor” e “objeto”. O humanista científico revolucionário não pode, em nome da revolução, ter nos oprimidos objetos passivos de sua análise, da qual decorram prescrições que eles devam seguir

Deve-se lembrar para dominar, o dominador não tem outro caminho senão negar às massas populares a práxis verdadeira. Negar-lhes o direito de dizer sua palavra, de pensar certo. Enquanto, no processo opressor, as elites vivem da “morte em vida” dos oprimidos e só na relação vertical entre elas e eles se autenticam, no processo revolucionário, só há, um caminho para a autenticidade da liderança que emerge: “morrer” para reviver através dos oprimidas e com eles. 

Isso nos remete aos conceitos já abordados de necrofilia e biofilia. Onde no primeiro núcleo central da cultura opressora produz e reproduz a lógica de desumanização da vida na sociedade. Essa lógica está incorporada nas diferentes dimensões da existência humana: econômica, política, cultural, educacional, religiosa, etc. Segundo Freire, a tendência dos opressores de controlar tudo e todos fazendo dos seres humanos meras coisas, objetos de sadismo, o que caracteriza um impulso para a morte. Da mesma forma, Freire destaca que o processo de libertação, coerente é desafiado a construir uma nova humanidade, exige que os líderes estão na luta e de todos aqueles que se solidarizam e lutam com o oprimidos por um mundo melhor, solidário e justo, e amor por tempo de vida.

O autor afirma que entende-se que toda aproximação que aos oprimidos façam os opressores, enquanto classe, os situa inevitavelmente na falsa generosidade. Isto não pode fazer a liderança revolucionária: ser falsamente generosa. Se as elites opressoras se fecundam, necrofilamente, no esmagamento dos oprimidos, a liderança revolucionária somente na comunhão com eles pode fecundar-se. Esta é a razão pela qual o que fazer opressor não pode ser humanista, enquanto o revolucionário necessariamente o é. 

Com essa comunhão em que crescerão juntos e em que a liderança, em lugar de simplesmente autonomear-se, se instaura ou se autentica na sua práxis com a do povo, nunca no desencontro ou no dirigismo não percebendo esta obviedade, a de que a situação concreta em que estão os homens condiciona a sua consciência do mundo e esta as suas atitudes e o seu enfrentamento. 

Isto é, sem a problematização desta falsa consciência do mundo ou sem o aprofundamento de uma já, menos falsa consciência dos oprimidos, na ação revolucionária se tem o intento de ultrapassagem do estado de objetos para o de sujeitos – objetivo da verdadeira revolução – não pode prescindir nem da ação das massas, incidente na realidade a ser transformada, nem de sua reflexão. 

Um dos pontos que ele levanta ser necessário é a quebra dos mitos, que vou abordar mais na característica conquista. Mas por agora o autor afirma que é necessário não deixar-se cair num dos mitos da ideologia opressora, o da absolutização da ignorância, que implica na existência de alguém que a decreta a alguém. Quanto mais diz a palavra sem a palavra daqueles que estão proibidos de dizê-la, tanto mais exercita o poder e o gosto de mandar, de dirigir, de comandar. 

Desta forma, é impossível o diálogo. Isto é próprio das elites opressoras que, entre seus mitos, têm de vitalizar mais este, com o qual dominam mais. A revolução se gera nela como ser social e, por isto, na medida em que é ação cultural, não pode deixar de corresponder às potencialidades do ser social em que se gera. É que todo ser se desenvolve (ou se transforma) dentro de si mesmo, no jogo de suas contradições. Os condicionamentos externos, ainda que necessários, só são eficientes se coincidem com aquelas potencialidades.

 Depois dessa introdução que eles nos apresenta, entra em cena a ação da antidialogicidade que se dá pelo estudo de suas características que são a conquista, dividir para manter a opressão, manipulação e a invasão cultural.

PRIMEIRO TEMOS A CONQUISTA, Massas conquistadas, são massas espectadoras, passivas, gregarizadas. Por tudo isto, são massas alienadas. A necessidade da conquista, acompanha a ação antidialógica em todos os seus momentos. O antidialógico, dominador, nas suas relações com o seu contrário, o que pretende é conquistá-lo, cada vez mais, através de mil formas. Das mais duras às mais sutis. Das mais repressivas as mais adocicadas, o autor para essa última dá como exemplo o paternalismo.

Desde logo, a ação conquistadora, ao “reificar” os homens, é necrófila.

É importante salientar que, não se é antidialógico primeiro e opressor depois, mas simultaneamente. O antidiálogo se impõe ao opressor, na situação objetiva de opressão, para, pela conquista, oprimir mais, não só economicamente, mas culturalmente, roubando ao oprimido conquistado sua palavra também, sua expressividade, sua cultura. 

Com fins implícitos na opressão, os opressores se esforçam por matar nos homens a sua condição de “admiradores” do mundo. Como não podem consegui-la, em termos totais, é preciso, então, mitificar o mundo.

Aqui que entra a questão do mito já citada, tem que se enfatizar que embora filósofos ou outros pensadores demonstram uma versão poética dos mitos onde eles apresentam com clareza sua moralidade e compreensão do mundo, na visão do autor principalmente relacionado a conquista do dominador o mito ajuda a guardar os segredos do poder, do controle, de manipulação. Mitos-ideologias levam a uma visão estreita da realidade; é o que nos separa da compreensão da realidade. Quanto mais nos afastamos da atitude crítica, mais nos aproximamos a visão mítico-mágica, supersticiosa e ingênua da realidade, mas nos aproximamos da destruição. A crítica dos mitos é essencial para a conquista da verdade. No processo de consciência, a atitude crítica torna-se possível a partir da eliminação de mitologia, dos mitos que sustentam estruturas de alienação, de opressão. 

O opressor até chegar nos oprimidos, na ação da conquista, não pode transformar-se num ficar com eles. Esta “aproximação”, que não pode ser feita pela comunicação, se faz pelos “comunicados”, pelos “depósitos” dos mitos indispensáveis à manutenção do status quo.

O autor insere uma serie de mitos como, por exemplo, de que a ordem opressora é uma ordem de liberdade. De que todos são livres para trabalhar onde queiram. O mito de que esta “ordem” respeita os direitos da pessoa humana e que, portanto, é digna de todo apreço. O mito de que todos, bastando não serem preguiçosos, podem chegar a ser empresários – mais ainda, o mito de que o homem que vende, pelas ruas, gritando : “doce de banana e goiaba” é um empresário tal qual o dono de uma grande fábrica. O mito do direito de todos à educação, quando o número de brasileiros que chegam às escolas primárias do país e o do que nelas conseguem permanecer é chocantemente irrisório. O mito da igualdade de classe, quando o “sabe com quem está falando?” é ainda uma pergunta dos nossos dias.

Todos estes mitos e mais outros, cuja internalização pelas massas populares oprimidas é básica para a sua conquista, são levados a elas pela propaganda bem organizada, pelos slogans, cujos veículos são sempre os chamados “meios de comunicação com as massas. 

Em verdade, não há realidade opressora que não seja necessariamente antidialógica, como não há antidialogicidade em que o pólo dos opressores não se empenhe, incansavelmente, na permanente conquista dos oprimidos. Trazendo assim uma ânsia necrófila de oprimir. 

DIVIDIR PARA MANTER A OPRESSÃO

Aqui o que interessa ao poder opressor é enfraquecer os oprimidos mais do que já estão, ilhandoos, criando e aprofundando cisões entre eles, através de uma gama variada de métodos e processos. Não se podem dar ao luxo de consentir na unificação das massas populares, que significaria, indiscutivelmente, uma séria ameaça à sua hegemonia. Conceitos como os de união, de organização, de luta, são considerados como perigosos. E realmente o são, mas, para os opressores. 

Desde os métodos repressivos da burocracia estatal, à sua disposição, até as formas de ação cultural por meio das quais manejam as massas populares, dando-lhes a impressão de que as ajudam. Com esta generosidade falsa, além de estar pretendendo a manutenção de uma ordem injusta e necrófila, estará querendo “comprar” a sua paz. Acontece que paz não se compra, se vir no ato realmente solidário, amoroso, e este não pode ser assumido na opressão. Defendidos contra a ação demoníaca de “marginais desordeiros”, “inimigos de Deus”, pois que assim são chamados os homens que viveram e vivem, arriscadamente, a busca valente da libertação dos homens. 

E os que são considerados em nível de liderança nas comunidades, para que assim sejam tomados, necessariamente, refletem e expressam as aspirações dos indivíduos da sua comunidade Sua interferência nos sindicatos, favorecendo a certos “representantes” da classe dominada que, no fundo, são seus representantes, e não de seus companheiros; a “promoção” de indivíduos que, revelando certo poder de liderança, podiam significa ameaça e que, “promovidos”, se tornam “amaciados”; a distribuição de benesses para uns e de dureza para outros, tudo são formas de dividir para manter a “ordem” que lhes interessa. 

Mesmo porque os oprimidos sabem, por experiência, o quanto lhes custa não aceitarem o “convite” que recebem para evitar que se unam entre si. A perda do emprego e o seu nome numa “lista negra”, que significa portas que se fecham a eles para novos empregos é o mínimo que lhes pode suceder.

Desta maneira, se seu estar no mundo do trabalho é um estar em dependência total, em insegurança, em ameaça permanente, enquanto seu trabalho não lhe pertence, não podem realizar-se. O trabalho não livre deixa de ser um que fazer realizador de sua pessoa, para ser um meio eficaz de sua “reificação”. Como auxiliar desta ação divisória, encontramos nela uma certa conotação messiânica, através da qual os dominadores pretendem aparecer como salvadores dos homens a quem desumanizam.

MANIPULAÇÃO 

A manipulação aparece como uma necessidade imperiosa das elites dominadoras, com o fim de, através dela, conseguir um tipo inautêntico de “organização”, com que evite o seu contrário, que é a verdadeira organização das massas populares emersas e emergindo. Assim como o dividir para manter a opressão, a manipulação é instrumento da conquista, em torno de que todas as dimensões da teoria da ação antidialógica vão girando.

 Através da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente, estejam elas, tanto mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras que não podem querer que se esgote seu poder. 

A manipulação se faz por toda a série de mitos a já abordados. Entre eles, mais este: o modelo que a burguesia se faz de si mesma às massas com possibilidade de sua ascensão. Para isto, porém, é preciso que as massas aceitem sua palavra. Na verdade, estes pactos não são diálogo porque, na profundidade de seu objetivo, está inscrito o interesse inequívoco da elite dominadora. Os pactos, em última análise, são meios de que só servem os dominadores, para realizar suas finalidades. 

A manipulação, na teoria da ação antidialógica tem de anestesiar as massas populares para que não pensem. Se as massas associam à sua emersão, à sua presença no processo histórico, um pensar crítico sobre este mesmo processo, sobre sua realidade, então sua ameaça se concretiza na revolução. Chama-se a este pensar certo de “consciência revolucionária” ou de “consciência de classe”, é indispensável à revolução, que não se faz sem ele. Insistindo as elites dominadoras na manipulação, vão inoculando nos indivíduos o apetite burguês do êxito pessoal.

O autor apresenta também uma crítica às formas assistencialistas, como instrumento da manipulação, servem à conquista. Funcionam como anestésico. Distraem as massas populares quanto às causas verdadeiras de seus problemas, bem como quanto à solução concreta destes problemas. Fracionam as massas populares em grupos de indivíduos com a esperança de receber mais. 

Wellyna Frazão, Corpo de Assessoria Jurídica Estudantil – Coraje

INVASÃO CULTURAL 

A invasão cultural que, como as duas anteriores, serve à conquista. Desrespeitando as potencialidades do ser a que condiciona, a invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a criação. Por isto é que, na invasão cultural, como de resto em todas as modalidades da ação antidialógica, os invasores são os autores e os atores do processo, seu sujeito; os invadidos, seus objetos. Os invasores modelam; os invadidos são modelados. Os invasores optam; os invadidos seguem sua opção. Os invasores atuam; os invadidos têm a ilusão de que atuam, na atuação dos invasores. Sendo assim uma atividade, para inibirem a expansão dos invadidos.

A invasão cultural tem uma dupla face. De um lado, é já dominação; de outro, é tática de dominação. toda dominação implica numa invasão, não apenas física, visível, mas às vezes camuflada, em que o invasor se apresenta como se fosse o amigo que ajuda. No fundo, a invasão é uma forma de dominar econômica e culturalmente ao invadido. Quanto mais mimetizados fiquem os invadidos, melhor para a estabilidade dos invasores. 

Uma condição biónica ao êxito da invasão cultural é o convencimento por parte dos invadidos de sua inferioridade intrínseca. Como não há nada que não tenha seu contrário, na medida em que os invadidos vão reconhecendo-se “inferiores”, necessariamente irão reconhecendo a “superioridade” dos invasores. Os valores destes passam a ser a pauta dos invadidos. Quanto mais se acentua a invasão, alienando o ser da cultura e o ser dos invadidos, mais estes quererão parecer com aqueles: andar como aqueles, vestir à sua maneira, falar a seu modo.

O eu social dos invadidos, que, como todo eu social, se constitui nas relações socioculturais que se dão enquanto modalidade de ação cultural de caráter dominador, nem sempre é exercida deliberadamente. Em verdade, muitas vezes os seus agentes são opressão igualmente homens dominados; “sobredeterminados” pela própria cultura. Com efeito, na medida em que uma estrutura social se denota como estrutura rígida, de feição dominadora, as instituições formadoras que nela se constituem estarão, necessariamente, marcadas por seu clima, veiculando seus mitos e orientando sua ação no estilo próprio da estrutura. 

Para os dominadores, a “incultura do povo é tal ‘que lhes’ parece um absurdo falar da necessidade de respeitar a “visão do mundo” que ele esteja tendo. Visão do mundo têm apenas os profissionais”. Da mesma forma, absurda lhes parece a afirmação de que é indispensável ouvir o povo para a organização do conteúdo programático da ação educativa. É que, para eles, “a ignorância absoluta” do povo não lhe permite outra coisa senão receber os seus ensinamentos. Retomando a ideia de “depósitos”.

Depois dessa explicação sobre a ação da antidialogicidade e as suas características o autor voltar para a ideia de ação revolucionária, trazendo os elementos abordados e apresentando contraposições que devem ser utilizadas pelos oprimidos na busca de sua liberdade. Assim ele afirma que quando os invadidos, em certo momento de sua experiência existencial, começam a recusar a invasão a que, em outro momento, se poderiam haver adaptado. 

Desnudar-se de seus mitos e renunciar a eles, no momento, há uma “violência” contra si mesmos, praticada por eles próprios. Afirmá-los é revelar-se. A única saída, como mecanismo de defesa também, é transferir ao coordenador o que é a sua prática normal: conduzir, invadir, conquistar, como manifestações de sua antidialogicidade. Submetidos ao condicionamento de uma cultura do êxito e do sucesso pessoal, reconhecer-se numa situação objetiva desfavorável, para uma consciência alienada, é frear a própria possibilidade do êxito. 

Na medida em que a conscientização, na e pela “revolução cultural”, se vai aprofundando, na práxis criadora da sociedade nova, os homens vão desvelando as razões do permanecer das “sobrevivências” míticas, no fundo, realidades, forjadas na velha sociedade. Como seres duais, porém, aceitam também, ainda em função das “sobrevivências”, o poder que se burocratiza e violentamente os reprime. 

Por tudo isto o autor defende o processo revolucionário como ação cultural dialógica que se prolongue em “revolução cultural” com a chegada ao poder. E, em ambas, o esforço sério e profundo da conscientização, com que os homens, através de uma práxis verdadeira, superam o estado de objetos, como dominados, e assumem o de sujeito da História. 

É importante salientar, que a liderança revolucionária precisa, como precisa de sua adesão à luta para que possa haver revolução, se deixa tentar pelos mesmos procedimentos que a elite dominadora usa para oprimir. Parece este um dado importante para analisar certas formas de comportamento da liderança revolucionária que, mesmo sem o querer, se constitui como contradição das massas populares, embora não antagônica, como já o abordado.

Quase nunca, porém, a liderança revolucionária percebe que está sendo contradição das massas. Realmente, é dolorosa esta percepção e, talvez por um mecanismo de defesa, ela resista em percebê-lo. Afinal, não é fácil à liderança que emerge por um gesto de adesão às massas oprimidas, reconhecer-se como contradição exatamente de com quem aderiu.

O papel da liderança revolucionária, em qualquer circunstância, mais ainda nesta, está, em estudar seriamente, enquanto atua, as razões desta ou daquela atitude de desconfiança das massas e buscar os verdadeiros caminhos pelos quais possa chegar à comunhão com elas. Comunhão no sentido de ajudá-las a que se ajudem na visualização da realidade opressora que as faz oprimidas.

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